Copom tem ‘alguns ajustes pela frente’ na Selic em pelo menos mais duas reuniões, diz diretor do BC

O diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) ainda fará "alguns ajustes pela frente" na Selic, e disse que a autoridade monetária deve elevar os juros em pelo menos mais duas reuniões

O diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) ainda fará “alguns ajustes pela frente” na Selic, e disse que a autoridade monetária deve elevar os juros em pelo menos mais duas reuniões. “A gente já sinalizou que o ciclo se estende por um par de reuniões pelo menos”, ressaltou em live da Modal + nesta quarta-feira (9).

Serra reforçou que a decisão de reduzir o ritmo de alta de juros (abaixo de 1,5 ponto percentual adotado na última reunião) mesmo com a projeção para inflação de 2022 acima do teto da meta foi tomada com base nos efeitos defasados de política monetária, que devem ser sentidos mais à frente, e ao nível já bastante elevado da Selic.

Além disso, o diretor ressaltou que a meta deste ano estará no horizonte relevante só até a reunião de março, por isso não parecia adequado sinalizar um ajuste maior.

“Apesar de 2022 requerer ajuste maior [nos juros], há muita volatilidade das projeções e nos preços de commodities. Fazer ajuste [maior] considerando que na reunião seguinte [o Copom] está olhando apenas para 2023 não nos pareceu a melhor decisão”, pontuou.

A meta para a inflação de 2022 é de 3,50% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, podendo chegar até 5%. O BC prevê alta de 5,4% no período, acima do máximo permitido.

Sobre a duração do ciclo, o diretor disse que o Copom deve analisar o balanço de riscos e as projeções para 2023, mas “talvez não tenha tanto espaço para postergar queda de juros lá na frente”.

Serra reiterou que o BC deve subir mais os juros do que o projetado no chamado cenário de referência utilizado antes da reunião do Copom, que leva em conta as expectativas do mercado para a taxa básica.

Na ocasião, os analistas previam que a Selic alcançasse o pico de 12% ao ano no primeiro semestre de 2022 e terminasse o ano a 11,75%. Depois, os juros cairiam para 8% em 2023.

“A gente vê inflação de 2023 acima da meta no balanço de risco, o cenário de referência hoje não parece condizente com trazer a inflação para a meta. Precisamos fazer algo a mais do que o cenário sugere. Então o BC deveria entregar mais juros ou fazer ciclo mais longo que o precificado no cenário de referência”, afirmou.

“O cenário de referência [de antes da reunião do Copom] não é suficiente para entregar inflação na meta”, reforçou. “O ajuste será mais duro que o cenário de referência, nos pareceu mais adequado sinalizar a redução de pace [ritmo]. Se a Selic está bastante acima do neutro e o hiato está aberto, inflação começa a convergir para o centro da meta e possivelmente abaixo em horizonte longo.”

Serra disse que nos últimos meses as projeções de inflação subiram e os preços administrados têm oscilado muito. Além disso, ele afirmou que o BC se preocupa com o efeito da inércia, que é o efeito da inflação corrente nos preços futuros, observado desde o fim do ano passado.

O diretor do BC disse que o “(banco) mudou na ata ‘aperto monetário deverá ser mais contracionista ao longo do horizonte’, contra ‘por todo horizonte’ da passada”. Mas destacou que essa é só mudança textual e que não tem objetivo de comunicar nada de diferente.

Serra ressaltou que a Selic estava no campo neutro até o fim do ano passado e que, embora tenha aumentado rápido, durante bom tempo os estímulos foram apenas reduzidos, o que não gerou tanto impacto na demanda.

Ele destacou que o tempo de defasagem da política monetária para efeito na atividade é de seis meses. “Depois disso, veremos na inflação”, afirmou. Ele complementou que o modelo sugere que o impacto no índice de preços se dá por volta de 18 meses.

O diretor do BC disse ainda que a inflação em 2021 teve destaque grande para preços importados e choque no câmbio, “que por culpa nossa depreciou mais que os pares” e que o BC teve que reagir fortemente a esses choques com ciclo de ajuste forte e rápido. “Passamos de Selic de 2% ao ano para 10,75%, ainda temos alguns ajustes pela frente a serem feitos”, disse.

Em sua visão, as condições financeiras no mundo precisarão ser apertadas, especialmente nos Estados Unidos. “A parte boa é como os mercados têm reagido. Ativos de tecnologia e cripto surfaram na onda da oferta de liquidez”, frisou. “Ao invés de surfarmos na onda de liquidez, os residentes [no Brasil] acabaram mandando mais recursos para fora do que recebemos”, complementou.

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