‘Perdi dinheiro, e bastante. Mas faz parte’: erros e acertos ao investir em ações pela primeira vez

A administradora Vanessa Costa sempre teve a cabeça nas finanças. Depois de trabalhar anos em uma instituição financeira e fazer pós-graduação em mercado de capitais, ela sabia que precisava colocar seu dinheiro para trabalhar. Assim, decidiu investir em ações.
O que não imaginava é que esse movimento seria o que permitiria a ela viver hoje um ano sabático para estudar, desacelerar e acompanhar o crescimento do filho de perto – tudo financiado por seus investimentos em ações e fundos imobiliários.
“Meu maior acerto foi ter começado a investir em ações há uns sete, oito anos. Todo mês, um pouquinho. Isso me deu a tranquilidade de me afastar do mercado de trabalho no fim de 2023 e tirar um período sabático para focar no mestrado e no meu filho”, conta. Hoje, ela vive dos rendimentos e da renda acumulada ao longo dos anos.
Quando o erro é seguir a maioria
Mas nem tudo é perfeito, como tudo na vida não é. Mesmo com toda a bagagem e experiência, ela caiu em uma das armadilhas clássicas do mercado: o efeito manada. “Via Varejo, nunca mais”, ri. “Entrei naquela empolgação coletiva, sem analisar direito. Perdi dinheiro, e bastante. Mas faz parte.”
A empresa, controladora das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, enfrentou uma série de turbulências nos últimos anos – incluindo indícios de fraudes contábeis reveladas em 2019. O desempenho recente abalou a confiança do mercado e contribuiu para oscilações bruscas no valor dos papéis. Em 2023, como parte de um reposicionamento, a companhia mudou sua denominação social para Grupo Casas Bahia, assim como seu ticker na B3.
A disciplina que virou renda
O contraponto a esse tropeço está na disciplina. Vanessa se diz fã de planejamento. Sempre que recebia algum valor extra – uma bonificação ou PLR – investia quase tudo. O segredo? Estudo e constância.
Essa mesma linha de raciocínio aparece na fala de Luiz Felipe Rocha, engenheiro geotécnico. Ele começou a investir em 2018, assim que conseguiu seu primeiro emprego, movido por conteúdos sobre independência financeira. Veio de uma família sem cultura de investimento e viu na bolsa de valores uma chance de ir além da renda proporcionada pelo trabalho.

“No começo eu era arrojado demais. Coloquei tudo em ações e operava com base em análise gráfica superficial. Quando as ações caíam, eu vendia com prejuízo porque não conhecia direito as empresas. Faltava convicção”, admite.
Os tropeços e ajustes ao investir em ações
A pandemia foi o grande ponto de virada. Ele vendeu ações em queda, ficou com preços médios altos e sem capital para aproveitar novas oportunidades. A partir dali, mudou tudo.
“Hoje eu invisto por conta própria, mas com uma estratégia clara. Tenho ações, sim – uns 20% da carteira, mas também aloco em renda fixa, cripto, fundos imobiliários e moedas estrangeiras. E mantenho uma reserva de liquidez. Essa diversificação me permite investir com consistência.”
O maior acerto, segundo ele, foi justamente mudar a forma de escolher ativos. “Passei a focar em fundamentos. Com isso, mesmo nas crises, consigo manter as posições com confiança. Isso muda tudo.”
Vanessa também não mudou seu perfil ao longo do tempo – segue sendo arrojada. “Eu gosto da doideira do mercado. Já perdi, já ganhei. Mas hoje tiro um pró-labore dos meus investimentos. Eles pagam minha rotina, meu tempo com meu filho, meu mestrado e minha paz.”
Ela resume bem o que parece ser o ponto comum entre os dois: constância, estratégia e foco no longo prazo. “Investimento é olhar para o futuro com responsabilidade no presente. E estudar. Conhecimento salva.”
Luiz Felipe concorda e complementa. “Tenha clareza do porquê está investindo. Isso muda sua postura. E nunca invista tudo no que você não entende.”
O que eles erraram na prática? | O que eles acertaram na prática? |
Seguir o efeito manada | Começar cedo e com constância |
Subestimar riscos em investimentos pouco estudados | Priorizar o planejamento financeiro |
Começar com 100% do capital em ações | Carteira focada no longo prazo e diversificada |
Operar sem fundamentos, baseado apenas em análise gráfica | Reformular a estratégia depois da pandemia |
Vender na baixa durante crises por falta de convicção | Priorizar fundamentos e setores essenciais |
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