Mesmo em alta, bolsa de valores brasileira não anima os maiores gestores de São Paulo e Rio

Nem rali recente do Ibovespa, nem ciclo de Selic perto do fim são suficientes para atrair os gestores para a renda variável

O recente rali do Ibovespa, que acumula alta de quase 11% em 2025, e sinais de que o ciclo de alta da Selic, agora em 14,75% ao ano, pode estar perto do fim não são suficientes para animar os investidores profissionais.

Entre os gestores da Faria Lima, em São Paulo, e do Leblon, no Rio de Janeiro, que administram os maiores fundos de multimercado do País, liberados para alocar em múltiplas classes de ativos, as oportunidades de bolsa de valores brasileira praticamente não são consideradas.

Já os gestores de fundos de ações, desde os mais nervosos àqueles com visão de mais longo prazo, preferem ativos considerados mais defensivos. Ou seja, no atual cenário eles têm optado por uma carteira bem reduzida de empresas, mais conectadas ao mercado externo do que ao interno.

Na quarta-feira (7), um evento organizado pelo family office TAG Investimentos reuniu seis grandes gestores do mercado.

Em comum, a aposta de que o rali vivido pela bolsa brasileira no começo do ano não se escora em fundamentos sólidos que apontem para uma melhora no mercado local de ações.

Cautela

“Nós estamos muito cautelosos com a bolsa brasileira. Estamos voltando a montar posição com ações nos Estados Unidos, que sofreu forte correção. Mas não temos uma aposta para a bolsa local”, afirma Fabiano Rios, sócio-fundador e CIO da Absolute Investimentos, com R$ 53 bilhões sob gestão.

Rios ganhou muito dinheiro no passado recente ao ser um dos primeiros a montar uma posição comprada em S&P500, o principal índice de ações do mundo, durante a pandemia.

Mais recentemente, ele surpreendeu o mercado ao afirmar, antes da queda do índice da bolsa americana, que estava ‘short’ (vendido) no S&P e no dólar. Essa posição rendeu a ele, em abril, o segundo melhor retorno mensal da história do fundo.

“Eu continuo com uma aposta na queda do dólar depois de 14 anos de valorização. O que está acontecendo é um movimento de placas tectônicas na economia. Mas não vejo um ‘call’ para o Brasil”, diz.

Mais pra frente

A opinião de Rios é compartilhada por Bruno Serra, ex-diretor de política monetária do Banco Central e atual gestor da família de fundos Janeiro, da Itaú Asset, hoje com R$12,7 bilhões de ativos sob gestão.

“Não temos bolsa brasileira. Nossos grandes ganhos de abril vieram de posições em juros no Brasil e na Inglaterra”, diz.

Lucas Cachapuz, sócio e gestor do recém-criado fundo Synergy, da asset do BTG Pactual, reconhece que o preços dos ativos da bolsa estão baixos e isso pode convidar o investidor a iniciar uma posição. Mas ele considera que ainda é cedo para isso.

“Acho que esse é um assunto para daqui a seis meses, um ano. Estamos longe das eleições para ter otimismo com bolsa”, destaca.

Segundo ele, no entanto, o cenário para ganhar dinheiro com investimentos em renda variável a partir do ano que vem é alto.

“O mercado está num quadrante mais cauteloso agora, mas é um quadrante bom. O juro no Brasil é muito alto, é o menor nível de spread da bolsa, mas o valuation (valor de mercado das empresas) está deprimido. Um pouco mais pra frente, vai ser muito interessante escolher uma empresa que vai capturar expansão de múltiplos com o fechamento de juros e o cenário eleitoral”, destaca.

Exportadoras

Entre os gestores que não podem não aplicar em bolsa, a estratégia para esse momento é manter a cautela e escolher com cuidado os investimentos.

“Não dá para ir de peito aberto para a bolsa brasileira. Não é possível comprar o índice Ibovespa e tirar férias”, diz Hegler Horta, sócio da Kapitalo Investimentos.

Para Marcio Luis Pereira, cogestor de renda variável e head de research da Icatu Vanguarda, a saída foi escolher empresas exportadoras.

“É como comprar dólar, mas com um carrego muito baixo”, explica.

O ativo preferido do gestor é SUZB3, os papéis da Suzano, fabricante de papel e celulose. O papel também agrada a André Gordon, gestor da GTI Administração de Recursos.

“Meu horizonte de investimentos é pequeno. Eu gosto de pensar em investimentos para seis meses. A Suzano tem uma vantagem porque produz um produto básico e tem o menos custo. Então, teoricamente, vai durar muitos anos”, diz.

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