Alta da bolsa de valores: é hora de reequilibrar a carteira e voltar para a renda variável?

Com Ibovespa na faixa de 135 mil pontos e projeções de até 149 mil, especialistas indicam caminhos para quem está concentrado na renda fixa voltar aos ativos de risco

Enquanto o mantra da renda fixa dominava o discurso dos investidores nos últimos meses, a alta da bolsa de valores brasileira desperta atenção. Só em abril, o Ibovespa subiu 3,7%. E uma projeção da XP aponta o índice a 149 mil pontos até o fim de 2025, reforçando o cenário otimista do momento. Neste sentido, vale reavaliar o peso da renda variável na carteira e rebalancear posições?

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O momento pode ser agora?

Segundo Norberto Sangalli, broker da mesa de alocação da Nippur Finance, o investidor que ficou sublocado em renda variável, especialmente após o ciclo prolongado de juros altos, deve considerar, sim, um movimento gradual de rebalanceamento.

“O valuation das ações brasileiras segue descontado em relação a pares globais e emergentes, e os fundamentos permanecem sólidos”, diz. “A transição deve ser feita com cuidado, mas quem não se expuser agora corre o risco de perder parte importante da valorização.”

Caio Zylbersztajn, sócio da Nord Investimentos, também vê espaço para manter ou aumentar a exposição à bolsa, mesmo após a valorização já percebida.

“O valuation da bolsa brasileira continua atrativo, com múltiplos historicamente baixos e posicionamento técnico extremamente leve”, afirma. “Não recomendamos reduzir posições para quem está dentro do seu perfil de risco.”

Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, reforça que a reavaliação da carteira faz sentido mesmo com a Selic elevada.

“O bom desempenho da bolsa e a melhora nos fundamentos internos justificam uma reavaliação do portfólio, especialmente para investidores excessivamente concentrados em renda fixa”, afirma.

“A combinação de crescimento doméstico, inflação sob controle, fluxo estrangeiro e otimismo moderado dos analistas cria um cenário favorável para uma entrada gradual e estratégica”, conclui o especialista.

Por onde começar?

A recomendação unânime é evitar movimentos bruscos.

Para quem ainda está muito exposto à renda fixa, o caminho mais prudente passa por uma transição gradual, seja por meio de aportes fracionados, seja pela escolha de produtos com menos volatilidade.

Sangalli sugere começar por produtos híbridos, como fundos multimercados ou previdência balanceada, que oferecem exposição à bolsa de valores com menor risco. “Já quem tem um perfil mais arrojado pode considerar diretamente ações de empresas com bons fundamentos e pagadoras de dividendos.”

Zylbersztajn recomenda definir, com apoio de um consultor, o percentual ideal de exposição à renda variável e só então iniciar os aportes. “Quem tem tempo e conhecimento pode operar diretamente. Caso contrário, é mais eficiente delegar para gestores de Fundos de Investimento em Ações”, explica.

Patzlaff complementa dizendo que o caminho mais seguro costuma ser iniciar por fundos multimercados ou produtos híbridos, que oferecem uma exposição moderada à bolsa com gestão profissional e mecanismos de proteção contra quedas mais abruptas.

Ele também cita os ETFs e fundos de ações com viés defensivo, especialmente os focados em empresas pagadoras de dividendos. “A exposição direta em ações individuais deve ser feita apenas quando o investidor já tiver maior clareza dos riscos e familiaridade com o mercado.”

Onde estão as oportunidades agora com a alta da bolsa?

Na análise dos especialistas, os setores ligados à economia doméstica aparecem como os mais promissores neste momento de reprecificação da bolsa de valores. “Consumo, educação, transporte e construção civil estão entre os destaques, especialmente os mais sensíveis à queda dos juros”, aponta Sangalli.

Zylbersztajn observa que empresas com boa geração de caixa e baixo endividamento também são fundamentais num ambiente ainda volátil. E reforça: “Não é hora de concentrar demais em um único setor. Diversificação, foco em qualidade e visão de longo prazo ainda são a melhor estratégia.”

Patzlaff amplia o olhar para além do ciclo doméstico. “Mesmo com os juros ainda altos, há setores com potencial de valorização, como consumo interno, varejo e infraestrutura, especialmente com o avanço de obras públicas e concessões”, diz. “Empresas de energia elétrica, saneamento e bancos também são bons exemplos de setores resilientes.”

Ele também cita o agronegócio e commodities, com demanda global sustentada, mas faz um alerta: a não resolução das tensões comerciais entre EUA e China pode gerar instabilidade nos mercados emergentes. “Além disso, o histórico de política protecionista de Donald Trump adiciona um grau de imprevisibilidade que pode refletir nos ativos brasileiros.”

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