Tesouro Direto IPCA+ 8% parece muito; mas não brilha aos olhos dos fundos de pensão

Fundos de pensão estão dobrando parcela de pós fixados atrelados à Selic em tempos de carrego histórico do IPCA+

Nesta semana, o mercado noticiou a elevação das taxas dos títulos atreladas ao IPCA. No vértice de médio prazo, de 2029, o papel do Tesouro Direto alcançou 8% de prêmio (IPCA+ 8%). Uma rentabilidade de encher os olhos dos investidores.

Mas se é tão bom, por que os fundos de pensão estão, neste momento, com o dobro da exposição que costumam estar em um outro ativo de renda fixa, o pós-fixado?

Lembrando que o pós-fixado remunera exclusivamente pela Selic, título de renda fixa que vai em direção oposta ao IPCA+.

A resposta, segundo o planejador financeiro Jeff Patzalaff, especialista em investimentos, pode ser uma aula de como alocar o dinheiro.

Ganhar menos, mas sem sustos

De volta aos fundos de pensão. Esses institucionais são verdadeiros transatlânticos, criados para garantir a aposentadoria complementar de servidores públicos ou trabalhadores de grandes empresas.

Os gestores que assinam as decisões de alocações tem mandatos muito bem definidos e, geralmente, pouco espaço para inovações.

Eles têm uma meta de desempenho a cumprir, geralmente atrelada à inflação. Precisam recompor as perdas com a corrosão monetária e, além disso, entregar um prêmio satisfatório para um investidor. A tarefa parece fácil num país onde a NTNT-B paga de 7% a 8% acima do IPCA. Quer dizer, mais ou menos.

“Por exemplo, eu compro uma NTN-B que paga IPCA+ 7%. Ela bate fácil a minha meta, que é de 4% (acima da inflação)”, conta Ginne Siqueira Diniz, superintendente de investimentos da BB Previdência.

“Eu tenho e não vou vendê-la (até o prazo de vencimento)”, continua. “Mas, com os juros subindo, o título fica sofrendo volatilidade. Isso deixa o participante muito preocupado. Nosso participante fica muito ansioso com essa toda volatilidade”, diz Ginne Diniz.

A oscilação dos títulos de NTN-B acontece por força da marcação a mercado. Esse é um mecanismo que ajusta diariamente o preço dos títulos de renda fixa prefixados ou atrelados à inflação, refletindo o valor que eles teriam se fossem negociados no momento no mercado secundário (quando os investidores compram e vendem entre si).

No caso de um título IPCA+ de longo prazo, e em momentos de grande atração para a renda fixa, como agora, a oscilação chega a ser superior ao de uma ação, negociada na Bolsa.

Geralmente, a executiva da BB Previdência diz que esse é uma mal necessário, não tem muito o que fazer. Mas hoje, com a Selic caminhando para 15% ao ano, a solução foi dobrar o caixa dos fundos em títulos pós-fixados. Eles rendem menos, mas não assustam ninguém.

“O que a gente está fazendo agora? O CDI está tão alto, que ele paga a minha meta. A gente ainda tem NTN-B para o longo prazo. Mas a gente está deixando um recurso maior no CDI, mais do que a gente deixava antigamente”, conta.

Maior fundo de pensão do Brasil

A executiva administra cerca de R$ 9 bilhões, em 40 planos de previdência distintos, tanto para servidores estaduais, quando municipais. Tradicionalmente, o dinheiro que ficava no pós-fixado era aquele recurso que seria usado para pagar os contribuintes aposentados, que fazem retiradas regulares.

“Por nossas políticas de investimento, a gente deixava um mínimo de 3% no CDI. E agora a gente está com 10% no CDI e podendo até aumentar”, conta.

A estratégia de Ginne Siqueira Diniz é parecida com a do maior fundo de pensão do país, o Previ, que administra um patrimônio de R$ 34,5 bilhões e conta com 200 mil beneficiados.

O fundo tem dois planos. O Plano 1, com cerca de 98% dos participantes já aposentados, a gestão mantém a política de caixa mínimo, que mantém recursos líquidos necessários para garantir o pagamento de benefícios, sem a necessidade de venda de ativos.

No Plano Previ Futuro, com participantes mais jovens, a estratégia muda um pouco.

“Para o Plano Previ Futuro, cuja fase atual é de acumulação e cerca de 94% dos participantes estão na ativa, a estratégia é de busca por performance”, explica, em nota, o Previ.

“Nesse Plano, estamos com saldo em caixa um pouco acima da média dos últimos anos, buscando agregar sharpe com o carrego de uma Selic mais elevada e redução de volatilidade”, afirma.

Três carteiras distintas

Para o planejador financeiro e especialista em investimento Jeff Patzalaff, isso está acontecendo nos fundos de pensão porque o brasileiro, em geral, gosta de retorno, mas não suporta oscilação.

“O investidor é muito emocional e pouco racional. E o brasileiro ainda é mais do que a média mundial. De uma forma geral, o investidor não aceita oscilação”, diz.

Em outras palavras, mesmo sabendo que a renda fixa é fixa, mas só se você sacar o dinheiro no prazo de vencimento, ele se assusta com os relatórios de gestão. E não entende episódios de cotas negativas.

“Ele precisa adequar o investimento com o prazo para usar o dinheiro. Ai fica perfeito”, conta.

O especialista recomenda sempre três separações de carteira. Uma de curto, outra de média e, por fim, uma de longo prazo. Começando pela última, a de longo prazo pode ser colocada hoje num IPCA+ longo, com rentabilidade alta e que fica ainda maior com o carrego dos juros compostos.

A curta, atualmente, é caixa, e caixa é em Selic. “Pode ser no seu banco mesmo, sem problema”, diz.

A de médio prazo, ele defende que se dolarize o dinheiro. “Meus clientes têm renda de R$ 20 mil, R$ 30 mil por mês. Eles gostam de viajar. Eu falo para colocar 10% da carteira em dólar. Dólar, lá pra frente, sempre vai se valorizar”, diz.

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