Renda fixa é o destaque de 2025, mas é preciso cuidado com o crédito privado

Panorama atual que envolve Selic alta, risco fiscal ainda presente e instabilidade política reforçam cautela na renda fixa

A renda fixa cresceu 18% em 2024 e fechou o ano com R$ 4,317 trilhões investidos, isso segundo a Anbima. O valor representa quase 60% de todos os investimentos feitos pelos brasileiros ao longo do ano passado e a Selic em alta contribui para que a renda fixa se mantenha em destaque.

Hoje a taxa básica de juros está em 13,25% ao ano. E a previsão é de pelo menos mais uma alta de um ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O encontro será em março.

E aí, com a Selic nesse patamar, a lógica é que os investidores busquem opções da renda fixa para as suas carteiras. Mas antes de mais nada, é preciso atenção.

A caderneta de poupança segue sendo uma opção pouco atraente. Neste momento de Selic alta, a poupança rende 0,5% ao mês – no fim do ano isso resulta em rentabilidade de 6%. O Tesouro Direto, por exemplo, paga 13,25%.

A renda fixa está muito favorável, como apontou a edição mais recente do PodInvestir, o podcast exclusivo da Inteligência Financeira. Mas é sempre bom ponderar seus investimentos.

O que evitar na renda fixa? Atenção ao crédito privado

Então, Fernando Felipe, especialista em renda fixa da Veedha, faz uma ponderação importante neste momento com o investimento no crédito privado.

“No atual cenário de alta de juros, acrescido ao momento muito turbulento com as questões políticas e fiscais do País, principalmente fiscais, acredito que seja importante tomar um certo cuidado com o crédito privado”, pontua.

A questão fiscal é uma das principais preocupações do mercado financeiro. Ainda mais após, no fim do ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentar um pacote modesto de corte de gastos.

Questões políticas no foco

E existem as “questões políticas” mencionadas por Felipe. Assim, a popularidade em queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode resultar em medidas populistas. No outro campo do espectro político, o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode embaralhar ainda mais as definições em torno da disputa em 2026.

O crédito privado é aquele em que o investidor ‘empresta’ dinheiro para uma empresa em troca de remuneração adicional por correção monetária (juros) no fim de determinado prazo que foi estipulado entre o investidor e a companhia. O risco é a empresa não ter fôlego para pagar, o que resulta em inadimplência

Por isso, para Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, a maior atenção deve estar nos títulos emitidos, por exemplo, por bancos de menor qualidade de crédito.

Atenção adicional na renda fixa

O olhar deve ficar mais atento também aos fundos de crédito privado de curto prazo. “Isso porque, em momentos de estresse no mercado de crédito, esses títulos sofrem de duas maneiras: com a onda de resgates e com a abertura maior de spreads”, explica Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus Research.

A especialista conta que a onda de resgates é maior nesses fundos do que em outros pois os investidores recorrem primeiramente a eles em momentos de aperto. “Ou seja, esses ativos funcionam como uma espécie de para-choque, uma proteção mesmo”, afirma.

Para completar, Lais diz que os fundos de crédito privado de curto prazo precisam investir em títulos mais líquidos, que em geral, são produtos mais conhecidos pelo mercado e que possuem uma maior nota de crédito.

“Contudo, esses títulos tendem a ter uma abertura de spread maior em momentos de estresse. Isso acontece porque eles também são os mais pressionados pelos diversos agentes de mercado em casos de pedidos de resgate ou mudança de cenário”, esclarece.

Tenho títulos de crédito privado na minha carteira, e agora?

Se você possui esse ativo financeiro, a recomendação da analista da Empiricus Research é revisar a carteira e reduzir a exposição ao produto. “Dado que os spreads de crédito estão apertados, a melhor alternativa é diminuir a exposição a esses fundos e buscar opções com menor volatilidade”, diz Lais.

Além disso, essa revisão também é muito importante não só para controlar riscos, mas para aproveitar oportunidades. “Muitas vezes, a curva de juros pode criar boas opções de realocação dentro da renda fixa. Afinal, o que parecia um bom investimento há alguns meses, pode perder espaço para alternativas mais interessantes conforme o cenário muda”, explica adicionalmente Rafael Sueishi, da Manchester.

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