Crédito privado: o que saber antes de investir no setor de petróleo e distribuição de combustíveis
Empresas citadas na reportagem:
A expectativa de desaceleração da economia global, que já pressionava o preço do petróleo na virada do ano, deu uma guinada e tende a reduzir a geração de caixa do setor. Enquanto isso, as distribuidoras continuarão sofrendo com as importações de combustíveis fora dos padrões regulatórios. É o que aponta o Itaú BBA em relatório sobre investimento em crédito privado.
De todo modo, o baixo custo de extração — especialmente no pré-sal — confere resiliência operacional e ajuda a preservar os fundamentos de crédito das petroleiras no curto prazo.
Individualmente, a diferenciação entre emissores em relação ao perfil financeiro tende a se intensificar. O Itaú BBA destaca o caso da Vibra (VBBR3), que agora direciona esforços para sinergias com a Comerc, enquanto a Ultrapar (UGPA3) terá de conciliar a retomada de rentabilidade na Ipiranga com os desafios operacionais e estratégicos da Hidrovias do Brasil, adquirida recentemente.
“A trajetória de crédito das companhias dependerá da capacidade de responder a pressões de custo, volatilidade de preços e riscos regulatórios, preservando liquidez e mantendo disciplina na alocação de capital”, afirmou o BBA.
Petrobras
A Petrobras (PETR4) vem se mantendo eficiente mesmo diante de atrasos em licenças ambientais e menor preço do Brent.
Na área de exploração e produção, operou com 80% da produção concentrada no pré-sal, mantendo-se eficiente mesmo em um ano com atrasos em licenças ambientais e menor preço do Brent.
Apesar de perspectivas de queda dos preços de petróleo e margens de refino em 2025 e 2026, segundo o Itaú BBA a Petrobras possui um custo de produção baixo (cerca de US$ 31 por barril), o que faz com que sua geração de caixa seja resiliente ao longo dos ciclos das commodities.
A alavancagem financeira (proporção do endividamento em relação ao capital próprio) subiu de 0,85 para 1,29 vez em 2024, reflexo de maiores passivos de leasing e da política de dividendos mais agressiva.
A maturidade média da dívida avançou para 12,5 anos. A posição de caixa de US$ 8,1 bilhões cobre 0,7 vez os compromissos de curto prazo (incluindo arrendamento).
PRIO
Afetada por paradas operacionais e falhas técnicas, a PRIO (PRIO3) teve queda de 4,6% da produção em 2024. Ademais, com a compra do campo de Peregrino, sua alavancagem financeira subiu de 0,7 para 1,2 vez o Ebitda.
A expectativa de preços do petróleo mais baixos neste e nos próximos anos deve pressionar suas receitas.
Porém, com a obtenção das licenças necessárias para a perfuração do primeiro óleo dos campos
e a entrada de Peregrino, a companhia deve apresentar maior geração de caixa a partir dos próximos trimestres, diz o BBA.
Ultra
O setor de distribuição opera sob maior incerteza, diante da expectativa de desaceleração da economia global pressionando os preços do petróleo.
Assim, a trajetória de crédito das companhias dependerá da capacidade de responder a pressões de custo, volatilidade de preços e riscos regulatórios, preservando liquidez e mantendo disciplina na alocação de capital.
A Ultra (UGPA3) enfrenta forte pressão sobre margens, com destaque para o aumento das importações de combustíveis. A operação da Ipiranga foi particularmente impactada pela pressão sobre margens,
decorrente da concorrência informal.
Em contrapartida, Ultragaz e Ultracargo mantiveram desempenho operacional resiliente, beneficiadas por ganhos de volume, eficiência logística e melhor mix de produtos
A companhia viu sua alavancagem (dívida bruta/Ebitda) subir de 2,6 para 3,1 vezes em 2024, influenciada pela aquisição da Hidrovias do Brasil e por recompras de ações.
Para o BBA, umas das principais preocupações do mercado em relação à companhia é com a crescente informalidade no setor de combustíveis, que pressionou a rentabilidade da Ipiranga e levou à perda de 2,9 pontos de participação de mercado.
Além disso, a aquisição da Hidrovias (R$ 1,8 bilhão) e a recompra de ações reacenderam discussões sobre disciplina de capital e capacidade de execução simultânea de múltiplas frentes.
Vibra
A companhia operou num cenário setorial desafiador, com queda de 3,0% no volume consolidado de vendas, aumento no custo dos produtos e forte competição, sobretudo no segmento de aviação.
A informalidade no setor, especialmente no etanol, continua impactando margens e participação de mercado, mas a aprovação de mudanças a tributárias e no RenovaBio devem beneficiar a Vibra (VBBR3) já a partir deste segundo trimestre.
A dívida líquida da Vibra fechou 2024 em 0,9 vez o Ebitda ajustado (ante 1,1 vez em 2023), em nível confortável frente à forte geração de caixa e posição de liquidez.
O endividamento segue concentrado em moeda local, com vencimentos bem distribuídos.
O caixa de R$ 10,5 bilhões cobre com folga as obrigações de curto prazo (R$ 2,7 bilhões).
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