Tarifaço e possível recessão: como investir nos Estados Unidos se protegendo do ‘risco Trump’

Confira estratégias sobre como investir nos EUA diante do atual cenário econômico imposto sobretudo pelo tarifaço

Desde o fim de janeiro, quando Donald Trump assumiu o poder nos Estados Unidos, diversas decisões do atual presidente mexem com a economia de grande parte do Mundo. E a principal delas, com certeza, envolve a recém-anunciada política tarifária. Diante disso, a dúvida que fica na cabeça do investidor pode ser: como investir nos EUA se protegendo desse eventual ‘risco Trump’?

Na última quarta-feira (2), Trump divulgou um extenso pacote de tarifas a produtos importados, taxando inclusive o Brasil. Por aqui, a taxa foi fixada em 10%. Mas a medida atingiu em cheio países do Sul e Sudeste da Ásia. A ação já provocou inclusive contra-ataque da China na última sexta-feira.

‘Risco Trump’ reduz a confiança do consumidor

A política comercial com cara de guerra, somada a outros fatores, como a questão do emprego interno, levam ao temor de recessão por lá, o que gera também um alerta para quem deseja investir nos Estados Unidos.

“A expectativa de uma economia mais fechada, com restrições aos negócios globalizados e diminuição do mercado de trabalho gera preocupações sobre os custos das companhias. Isso porque as empresas podem entrar em dificuldades, diminuir as taxas de crescimento, aumentar os preços ao consumidor final e contratar menos. O que pode gerar desaceleração da atividade econômica”, explica Paula Zogbi, gerente de research da Nomad.

A análise choca-se com o discurso do presidente Donald Trump ao anunciar seu tarifaço. A lógica dele é a de que as medidas protecionistas devem beneficiar a abertura de fábricas nos Estados Unidos. Isso não ocorreu no mandato anterior, quando uma política comercial agressiva contra a China deslocou a produção para países menores da região.

Nesse cenário, as expectativas do próprio cidadão americano estão se deteriorando. O que pode ser visto nas leituras mais recentes de indicadores de confiança do consumidor.

“Pesquisas com a indústria (ISM manufatureiro e o NFIB — pequenos e médios negócios), além da análise do consumidor, feita pela Universidade de Michigan, mostram uma retração importante no otimismo com a economia do país nos próximos seis meses. E isso reforça a ideia de que o momento é menos propício para a empregabilidade e para a continuidade do crescimento da economia. Tal dinâmica ainda não está prevalecendo na economia, mas pode se tornar algo bastante factível em um curto espaço de tempo”, acredita João Piccioni, diretor de investimentos da Empiricus Gestão.

Possível recessão?

Para o economista André Mirsky, de fato, existe este risco, apesar do cenário não ser definitivo. “O que irá ditar o rumo da economia norte-americana será realmente as consequências das políticas de tarifas comerciais de Trump e a o aperto monetário da Federal Reserve. Afinal de contas, se aumentarem a inflação e impedirem que os juros baixem, afetarão o consumo e a produção industrial”, argumenta.

Por outro lado, William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, faz uma ponderação a respeito da recessão norte-americana.

“O que temos visto nos Estados Unidos foi uma mudança do humor, do sentimento, em virtude da possibilidade de uma recessão, que, a meu ver, ainda aparece muito no campo da possibilidade e nem tanto da probabilidade. Eu acho que é muito mais possível do que provável”, afirma.

Como investir nos EUA fugindo do ‘risco Trump’

Mas mesmo diante desse cenário de incertezas econômicas é possível investir nos EUA se protegendo do ‘risco Trump’. De acordo com Paula Zogbi, da Nomad, uma classe de ativos que historicamente é boa para diversificar em períodos de alta volatilidade é a de commodities, especialmente as metálicas.

“O ouro teve uma valorização bem expressiva no começo de 2025. (Apesar da queda recente após o anúncio de mais tarifas pelo governo norte-americano). Ainda assim, ter uma parcela da carteira em ouro pode trazer um alívio importante em fases mais agudas de volatilidade”, diz a especialista.

E até mesmo no mercado de ações há como investir nos Estados Unidos sem sofrer com as decisões do governo atual. “O ponto central aqui é aplicar em ações de empresas ligadas a bens de consumo essenciais, como saúde, alimentação, moradia, utilidades públicas, entre outros, que tendem a ser mais resilientes em cenários de crise”, pontua André Mirsky.

Além desses setores, Paula acrescenta que empresas de valor, ou seja, com balanços sólidos e geração de lucro consistente e que estejam baratas em relação a seus pares, também devem ser consideradas na hora de pensar em como investir nos EUA nesse momento.

Renda fixa entra na cesta de investimentos

Por fim, e não menos importante, a renda fixa americana continua sendo boa oportunidade. Inclusive nessa estratégia de proteção. “Os títulos do Tesouro dos EUA (treasuries) são boa opção para quem busca segurança. (Afinal, mesmo com risco de recessão, as chances do país quebrar são quase que inexistentes)”, pontua Mirsky.

O economista comenta ainda que a discussão sobre a recessão nos EUA ainda está aberta e que os próximos meses serão decisivos para entender se a economia americana de fato seguirá por esse caminho.

“Para os investidores, o momento é de cautela, diversificação e análise criteriosa. O importante é ter uma estratégia clara para atravessar qualquer cenário que se desenhe no horizonte, com atenção também às oportunidades que estão sendo criadas”, finaliza.

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