Previdência privada: saiba tirar o melhor proveito desse ativo alternativo ao vencimento do INSS
Com indicação principalmente para aposentadoria com alternativa ao INSS, ou até mesmo para outros objetivos de longo prazo, a previdência privada continua sendo um bom ativo para investimento. Afinal, ela também pode ser usada para planejamento sucessório, formação de reserva para os filhos ou até mesmo como parte de uma carteira de investimentos com foco em eficiência tributária.
Para Luan Andrade, consultor financeiro da W1 Consultoria, o grande diferencial da previdência privada é que ela oferece uma estrutura legal e tributária própria. Tudo isso com benefícios importantes, como portabilidade entre fundos sem cobrança de imposto, isenção de inventário em caso de morte e regimes de tributação que podem ser adaptados ao perfil do investidor.
“Em outras palavras, a previdência privada não é apenas uma poupança turbinada, mas um instrumento de planejamento financeiro de longo alcance. E quando usada com estratégia, pode fazer uma enorme diferença na qualidade de vida da pessoa no futuro”, argumenta o especialista.
Quando investir em previdência privada
E como o foco está no longo prazo, investir nesse ativo financeiro não depende de idade, e sim de objetivo. “Se a pessoa quer se aposentar com mais tranquilidade, proteger sua família, formar um fundo para os filhos ou diversificar sua carteira com uma alternativa de longo prazo, então a previdência faz sentido. E aí, o momento ideal para começar é agora. Desde que o investidor tenha clareza sobre o prazo e o propósito por trás desse investimento”, considera Andrade.
Mas claro que quanto mais cedo investir, melhor. “Afinal de contas, o segredo da previdência está no poder dos juros compostos. Começar cedo, portanto, permite que seu dinheiro trabalhe por mais tempo”, ensina o consultor financeiro.
Conheça a Calculadora de Juros Compostos da Inteligência Financeira |
A Inteligência Financeira criou uma Calculadura de Juros Compostos que ajuda o investidor a entender o crescimento dos seus investimentos ao longo do tempo. Ela é fácil de usar e bastante intuitiva. |
Tipos de previdência privada
Vale saber que existem dois tipos principais de previdência privada no Brasil: aberta e fechada.
“A previdência aberta é oferecida por instituições financeiras, como bancos e seguradoras, e está disponível para qualquer pessoa interessada, são os famosos PGBLs e VGBLs”, explica Bruna Caroline Kloppel, coordenadora de fundos e previdência da Central Ailos.
- PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre): esse tipo de plano de previdência privada permite que o investidor deduza as contribuições feitas no plano ao longo do ano na declaração de Imposto de Renda, até o limite de 12% da sua renda bruta anual. “Ou seja, é ideal para quem faz a declaração completa do IR. Porém, é importante levar em conta que quando houver um resgate, esse recurso será tributado sobre o valor total resgatado, incluindo os rendimentos”, afirma Bruna.
- VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre): nesse tipo de plano as contribuições não são dedutíveis do IR. Porém, no momento do resgate, a cobrança do imposto se dá apenas sobre os rendimentos acumulados, e não sobre o valor total. “O que torna esse produto mais vantajoso para quem faz a declaração simplificada do IR ou está isento”, diz a coordenadora de fundos e previdência.
Para os colaboradores das empresas
Já a previdência fechada, também conhecida como fundo de pensão, é oferecida por entidades de previdência complementar e está disponível apenas para membros de determinados grupos. Nesse caso, funcionários de uma empresa ou associados de uma entidade.
“As previdências fechadas seguem as mesmas regras de tributação do PGBL. Além disso, os valores investidos ao longo do ano nesse tipo de plano também podem ser utilizados para dedução fiscal”, pontua Bruna Kloppel.
Investidor tem o poder de escolher tributação da previdência
Um ponto interessante da previdência privada é que o investidor escolhe, no momento da contratação, como será a tributação no futuro. E isso, de acordo com Luan Andrade, permite traçar uma estratégia mais eficiente do ponto de vista fiscal. “Ou seja, o investidor consegue identificar qual taxa será melhor para ele no futuro”, afirma.
Existem dois modelos de tributação da previdência: a tabela progressiva e a regressiva.
- Tabela progressiva: nesse caso, o cálculo do imposto é bem similar à matemática do IR sobre os salários de quem é CLT. Ou seja, varia entre 0% a 27,5%, dependendo do valor resgatado ou recebido como benefício. “Essa tributação é ideal para quem pretende receber a previdência em forma de renda mensal e para quem terá baixa renda no futuro”, argumenta Pedro Ros, CEO da Referência Capital.
- Tabela regressiva: esse modelo é o contrário do progressivo. Então, começa em 35% de IR (para resgates até 2 anos) e reduz para 10% após 10 anos. “Essa tributação é ideal para quem quer investir a longo prazo. É a mais usada por quem faz planejamento sucessório ou foca na rentabilidade”, diz Ros.
Tabela regressiva de IR | |
Tempo de aplicação (por aporte) | Alíquota (IR) |
Até 2 anos | 35% |
De 2 a 4 anos | 30% |
De 4 a 6 anos | 25% |
De 6 a 8 anos | 20% |
De 8 a 10 anos | 15% |
Mais de 10 anos | 10% |
Vantagens da previdência privada
E além de contribuir para aposentadoria mais recheada, o plano de previdência tem como um dos maiores atrativos o benefício fiscal. “Quem investe pelo modelo PGBL, por exemplo, pode deduzir até 12% da renda bruta anual no Imposto de Renda. Outro ponto importante é a portabilidade sem IR. O investidor pode trocar de fundo ou de gestora sempre que quiser. E assim, buscar a melhor rentabilidade ou a menor taxa, sem pagar imposto por isso”, comenta Luan Andrade.
Outra vantagem do ativo é que ele não possui incidência de come-cotas, que é uma antecipação do Imposto de Renda que ocorre nos fundos de investimento a cada 6 meses. “Como estamos falando de rendimentos através dos juros compostos, esse pagamento antecipado de imposto no longo prazo tem um impacto significativo no retorno financeiro do investimento”, afirma Bruna.
Além disso, a previdência privada permite um planejamento sucessório eficiente. Isso porque os recursos vindos desse investimento não entram em inventário e são pagos diretamente aos beneficiários.
Desvantagens da previdência
Apesar dos benefícios, a previdência privada, claro, também exige atenção.
E um dos riscos do investimento são as taxas de administração e carregamento, presentes em alguns planos, especialmente os mais antigos. E isso, de acordo com os especialistas, pode corroer boa parte da rentabilidade.
O que é a taxa de carregamento da previdência privada? |
A taxa de carregamento é uma cobrança a mais sobre os aportes e saques da previdência privada. O valor tem como destino cobrir as despesas vindas do gerenciamento desse ativo financeiro. Por outro lado, atualmente poucas instituições cobram essa taxa, que pode variar de porcentagem. |
Outra questão é a liquidez. “Por ser pensada para o longo prazo, a previdência não é o melhor veículo para quem pode precisar do dinheiro a qualquer momento”, alerta Andrade.
O risco de mercado e de gestor também é um ponto de atenção. “Podem ocorrer variações nos investimentos que estão dentro do fundo de previdência. Afinal, esses fundos carregam ativos de renda fixa, ações etc. Além disso, se houver uma má gestão da previdência, isso pode afetar o desempenho do investimento”, argumenta Ricardo Schweitzer, sócio da Garoa Wealth Management.
Escolher o melhor plano ajuda no futuro
Pensar nas vantagens e desvantagens da previdência privada é importante para entender se o produto vale a pena para o investidor. Mas, além disso, também é importante selecionar o melhor plano.
Por isso, na hora de escolher a previdência, vale seguir essas orientações de Luan Andrade:
- Fuja de planos com taxa de carregamento;
- Compare a taxa de administração;
- Analise o histórico de rentabilidade e o gestor do fundo;
- Escolha o tipo de plano de acordo com seu IR (PGBL ou VGBL);
- Avalie a reputação da instituição;
- Considere a portabilidade se já tiver um plano antigo e com resultado inadequado.
Como investir em previdência privada?
E para aplicar parte do patrimônio na previdência é bem simples. Os especialistas montaram um passo a passo de como investir.
1. Escolha a instituição de confiança: pode ser um banco, uma corretora ou até mesmo uma seguradora.
2. Avalie qual o tipo de plano (PGBL ou VGBL) é mais aderente para a forma de declaração de imposto: ou seja, completo ou simplificado.
3. Selecione a melhor tributação: progressiva ou regressiva.
4. Avalie e escolha o fundo que irá investir: renda fixa, multimercado, inflação, ações etc. Se não tiver muito conhecimento sobre o assunto, recomenda-se procurar um profissional para orientação e ter a certeza de que a estratégia escolhida está aderente ao perfil de investidor e aos objetivos de investimento.
5. Faça o aporte inicial: o valor, claro, será determinado pelo investidor. Além disso, é importante criar o hábito de fazer aportes mensais a fim de engordar a previdência para o futuro.
6. Reavalie o investimento anualmente: esta é uma forma de verificar se o ativo continua atendendo as expectativas do investidor ou se há necessidade de ajustes.
Como pedir o resgate da previdência?
Quando chegar o momento de fazer a retirada do dinheiro, o passo a passo é o seguinte:
- Solicite o resgate via plataforma do banco ou seguradora.
- Escolha entre saque total ou recebimento mensal.
- Verifique a tributação com base no regime escolhido.
- Aguarde a liquidação, que ocorre em 5 a 10 dias úteis.
- Receba o valor da previdência privada líquido na conta. Ou seja, já com o desconto de IR.
“Previdência privada não é só aposentadoria. É estratégia de proteção patrimonial, sucessão eficiente e blindagem tributária. Mas só vale a pena quando feita com clareza, boa escolha de produto e orientação correta”, conclui Pedro Ros.
Leia a seguir