20% ao ano isento de IR? Em que o investidor deve ficar atento na renda fixa de alto retorno

Que tal um certificado de recebíveis do agronegócio (CRA) que rende ao redor de 20% ao ano, isento de Imposto de Renda (IR)? Ou um CDB com rendimento superior a 19% anuais? Esses e outros produtos de estão disponíveis nas maiores plataformas digitais de investimentos no Brasil.
São taxas sedutoras mesmo para padrões históricos do Brasil, um campeão mundial de juros altos.
Para efeito de comparação, esses níveis são mais do que o dobro do oferecido atualmente por grandes empresas globais, com teto em 8%, segundo o portal Fidelity, num momento de taxas de juros extraordinariamente elevadas no mundo todo.
Não por acaso, instrumentos de crédito privado estão crescendo como nunca no Brasil, tomando espaço da poupança, dos fundos de investimentos e crescendo muito mais rápido do que a renda variável.
As emissões de crédito privado nos dois primeiros meses do ano atingiram R$ 83 bilhões, montante 52% maior do que no mesmo período de 2024.
Liderados pelos chamados ativos isentos (de IR) – debêntures, CRAs, (CRIs) recebíveis imobiliários, letras de crédito imobiliários (LCIs) e do agronegócio e (LCAs) – o crédito privado vem assumindo fatias recordes nas carteira dos investidores, como mostrou recentemente a Inteligência Financeira.
Ativos mais rentáveis são muito distantes da média
Contudo, os ativos de renda fixa com rentabilidades superiores também estão muito acima do padrão, mesmo comparados com o mercado doméstico.
Dentre os CDBs (títulos emitidos por instituições financeiras) posfixadas, por exemplo, a taxa oferecida pelos maiores bancos dificilmente fica distante do CDI.
Assim, um emissor que oferece 100% do CDI atualmente vai pagar ao investidor o equivalente a 14,15% ao ano. Às vezes menos do que isso.
Instituições de menor porte, como têm atratividade menor entre investidores, costumam em contrapartida oferecer mais, algo entre 101% e 107% do CDI.
No entanto, segundo a pesquisa da Inteligência Financeira, os CDBs mais rentáveis chegam a oferecer 136% do CDI, o que equivale a 19,25% anuais.
Eventualmente, como um esforço de captação de novos clientes, mesmo instituições de grande porte oferecem taxas bem mais atraentes, de até 200% do CDI. Porém, em geral essas ofertas vêm acompanhadas de várias restrições (teto baixo de investimento, prazo curto).
NTN-B precisaria pagar mais de 20% para alcançar alguns CRAs
No caso dos títulos de empresas não financeiras (debêntures incentivadas, CRIs e CRAs), o fato de terem incentivos fiscais já os tornam mais atraentes do que os demais. Por isso, a rentabilidade pode ser até menor do que a do CDI.
No entanto, a diferença de retorno entre ativos desta categoria também varia bastante.
Como referência, um CRA referenciado em IPCA+ da JBS, com vencimento em 2032 tem retorno equivalente a 13,2% ao ano.
Porém, a Inteligência Financeira encontrou em plataformas de investimentos oferta de CRAs IPCA+ de emissor menos conhecido, com vencimento em 2030, embutindo rentabilidade ao redor de 18%.
Comparativamente, para o investidor ter o mesmo com um Tesouro Direto, uma NTN-B equivalente precisaria pagar em termos líquidos um retorno superior a 20% ao ano. Atualmente, o retorno desse papel é inferior a 15%.
Investidor deve também prestar atenção em liquidez e segurança
Segundo especialistas, diante desse cenário o poupador deve fazer uma análise cuidadosa das características de cada investimento e se isso se enquadra ao seu perfil de risco.
“É fundamental que o investidor volte sua atenção para o equilíbrio entre rentabilidade, segurança e liquidez, o tripé dos investimentos”, diz o sócio da Garoa Wealth Managment, Carlos Müller.
Com base nesse raciocínio, sempre que um ativo tem uma promessa de retorno maior, em troca o investidor acaba tendo que ceder em relação aos outros dois.
Assim, quando um título incentivado paga mais, porém costuma ter um prazo de carência para resgate, muitas vezes de anos.
Além disso, emissores que prometem taxas maiores normalmente têm um risco de crédito maior.
Os CRAs, CRIs e as debêntures, por exemplo, não têm a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), como acontece com CDBs, LCAs e LCIs.
No ano passado, por exemplo, os Fiagros, fundos que investem em CRAs, tiveram fortes perdas, refletindo uma crise em emissores do agronegócio.
“É preciso entender de que se está abrindo mão para alcançar um retorno maior”, acrescenta Müller. “Em momentos de instabilidade ou juros altos, o apelo de investimentos milagrosos aumenta, tornando ainda mais essencial a análise criteriosa dos riscos envolvidos”.
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