Tensão cresce na Ucrânia e volta a punir mercados

O salto dos preços do petróleo tem feito o mercado colocar nos preços dos ativos um cenário de inflação ainda mais alta no médio e no longo prazos

Fundos quantitativos, como o Medallion de Jim Simons, se destacam por sua capacidade de minimizar os vieses comportamentais que frequentemente afetam os gestores tradicionais
Fundos quantitativos, como o Medallion de Jim Simons, se destacam por sua capacidade de minimizar os vieses comportamentais que frequentemente afetam os gestores tradicionais

O agravamento da guerra na Ucrânia, com as crescentes ofensivas das tropas russas em Kiev, feriu em cheio o sentimento favorável a risco nos mercados financeiros globais no pregão de ontem. Investidores se desfizeram de ações e correram para a segurança do dólar, do ouro e dos Treasuries.

O comportamento dos preços do petróleo, que saltaram para US$ 105 por barril, também contribuiu com o mau humor do mercado financeiro, ao pesar sobre as perspectivas de crescimento e apontar para um cenário de pressões inflacionárias adicionais à frente.

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Na Europa, a aversão a risco se mostrou ainda mais intensa, diante dos potenciais efeitos mais corrosivos da guerra na Ucrânia. Assim, o índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 2,37%; o DAX, da Bolsa de Frankfurt, perdeu 3,85%; o CAC 40, de Paris, cedeu 3,94%; e o FTSE MIB registrou desvalorização de 4,14% na Bolsa de Milão.

Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,76% e o S&P 500 recuou 1,55%, enquanto o índice Nasdaq exibiu perda de 1,57%. Em contrapartida, o índice de volatilidade VIX, considerado o “medidor de medo” em Nova York, subiu 10,51%, para 33,32 pontos, maior nível desde outubro de 2020.

Nos dois lados do Atlântico, a história foi semelhante e o setor financeiro foi o mais atingido, ainda em reação às sanções impostas por países do Ocidente contra o sistema financeiro russo. Além da retirada de bancos do sistema de pagamentos Swift, medidas para congelar parte das reservas internacionais da Rússia também foram adotadas. E na segunda-feira, o Departamento do Tesouro dos EUA proibiu quaisquer transações com o banco central russo.

Não por acaso, ações de bancos têm sido duramente penalizadas ao redor do globo. Ontem, em Nova York, os papéis do Morgan Stanley caíram 3,43% e os do Wells Fargo perderam 5,77%. Já o BNP Paribas recuou 6,81% em Paris, enquanto a ação do Unicredit sofreu um tombo de 6,95% em Milão.

“Olhando para os últimos 70 anos, os mercados geralmente levaram algumas semanas desde o início de uma guerra para encontrar um fundo. E um conflito militar dessa escala, no quintal da UE e envolvendo uma superpotência, não aconteceu nos últimos 50 anos”, lembra o diretor de investimentos (CIO) da Deutsche Asset Management, Stefan Kreuzkamp.

O índice DXY, que mostra o desempenho do dólar contra outras seis moedas principais, subiu 0,70%, para 97,38 pontos, maior nível desde junho de 2020. Já o contrato futuro de ouro para abril teve alta de 2,26%, a US$ 1.943,80 por onça-troy.

Apesar das muitas incertezas no cenário atual, Kreuzkamp avalia que “o risco de estaglação está aumentando”. “Embora os bancos centrais façam de tudo para evitar sérios estresses nos mercados, desta vez, ao contrário dos anos anteriores, eles não podem ignorar a inflação”, enfatiza Kreuzkamp, em relatório enviado a clientes.

Os temores estagflacionários já encontram eco no próprio Federal Reserve (Fed). Ao participar da abertura de um evento virtual ontem à tarde, a presidente da distrital de Cleveland do Fed, Loretta Mester, afirmou que o banco central americano tem um desafio à frente para reduzir a acomodação monetária e ainda dar suporte à expansão da economia. E, ao falar diretamente sobre potenciais impactos do conflito na Europa, Mester apontou que a situação “aumenta riscos de alta para a inflação”, mas também representa riscos de baixa para as expectativas de crescimento econômico.

O salto dos preços do petróleo, que rondam os maiores níveis desde 2014, tem feito o mercado colocar nos preços dos ativos um cenário de inflação ainda mais alta no médio e no longo prazos. Se, no início de fevereiro, a curva de juros precificava inflação de 2,8% em cinco anos nos EUA, ontem o mercado passou a indicar 3,2%, mesmo em um dia de queda relevante dos rendimentos dos Treasuries. Vale lembrar que a meta de inflação nos EUA é de 2%, o que mostra um alerta para o risco de desancoragem das expectativas inflacionárias.

Além disso, o estrategista de alocação de ativos da LPL Financial, Barry Gilbert, observa que alguns danos econômicos mais fortes podem resultar do conflito diante das pressões inflacionárias mais prolongadas, das condições financeiras mais apertadas e de obstáculos ao crescimento global. Assim, a segurança dos Treasuries e do ouro têm atraído demanda cada vez maior. Ontem, o retorno da T-note de dez anos se afastou ainda mais dos 2%, ao cair a 1,722%.

Gilbert, porém, diz que os fundamentos da economia americana sustentam a exposição a ações dos EUA neste momento. “É uma situação fluida, mas achamos que os fundamentos permanecem fortes o suficiente para apoiar uma recuperação nas ações”, afirma.

Os estrategistas de ações Scott Chronert e Drew Pettit, do Citi, notam, ainda, que o aumento das preocupações geopolíticas está colocando o crescimento econômico em xeque, o que tem implicações para os “valuations” das ações. Para eles, enquanto a duração e a extensão do conflito ainda não estão determinadas, “os níveis dos preços das commodities diminuem a confiança na recuperação pós-pandemia em andamento”. “A partir daqui, esperamos uma trajetória gradual de alta para as ações americanas, mas com ‘valuations’ implícitos mais baixas devido a um prêmio de risco geopolítico mais elevado”, dizem em nota.

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