Copom pode definir nova alta da Selic na próxima quarta-feira; veja o que mais esperar

- O Copom deve elevar a Selic em sua próxima reunião, entre 6 e 7 de maio.
- A magnitude da alta é incerta: 0,25 ou 0,50 ponto percentual.
- Economistas preveem o fim do ciclo de alta, possivelmente em 14,50% a 14,75%.
- O comunicado do Copom deve apresentar um tom mais suave, sem novas projeções de altas futuras.
- A incerteza internacional e a desaceleração da economia global influenciam as decisões.
Desde abril, membros do Banco Central do Brasil vêm enfatizando o uso de palavras como “incerteza“, “cautela” e “flexibilidade” para indicar como será a condução da taxa Selic, hoje a 14,25% ao ano, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), entre 6 a 7 de maio.
Enquanto o consenso do mercado financeiro aponta para uma alta de 0,50 ponto percentual nos juros a partir de maio, cresce a ala de economistas que cortou projeções para a elevação em menor magnitude, de 0,25 p.p.
Segundo economistas ouvidos pela Inteligência Financeira, houve uma queda de expectativa de alta da Selic com o cenário conturbado pelas tarifas de Donald Trump. Mais importante que a alta em si, o Copom deve retirar indicações de mais altas adiante, finalizando o ciclo em 14,50% a 14,75%.
Balanço de riscos do Copom contra alta da Selic deve aumentar
É quase certo que o Copom deve aumentar a Selic em sua próxima reunião. A questão que divide hoje o mercado financeiro é a magnitude da elevação e, logo em seguida, a mensagem a ser divulgada no comunicado do comitê.
Em evento com a XP Investimentos na semana passada, Diogo Guillen, atual diretor de Política Econômica do BC, disse que o cenário internacional exige “cautela e flexibilidade” por parte do Copom.
As duas palavras grudaram na cabeça de economistas ansiosos por saber dos próximos passos da Selic. Mas é consenso de que o balanço de riscos do Copom deve refletir uma suavização do ciclo de alta já na próxima reunião.
Andrei Spacov, economista-chefe da gestora Exploritas, diz que o mercado hoje subestima a possibilidade de a Selic subir 0,25 p.p. ao invés de 0,50 ponto.
Ele entende que os últimos discursos de Guillen e Gabriel Galípolo, presidente do BC, indicam para maior flexibilidade na condução dos juros.
“Mandaram uma mensagem muito clara com ênfase em gradualismo (da Selic)”, diz Spacov. “Entendo que, com o mercado precificando a 0,50, quando se fala de gradualismo, é porque vem menor”, explica.
Ou seja, ele projeta uma Selic a 14,50% na semana que vem. O principal motivo é a probabilidade de aumento de cortes de juros nos Estados Unidos, que subiu conforme o aumento de uma possível recessão na economia americana.
“Antes da fala de Guillen, minha aposta era de queda de 0,50 p.p. para esta próxima reunião do Copom”, afirma o economista.
Ivo Chermont, economista da gestora Quantitas, também reduziu suas previsões.
“Principal motivo da mudança deriva da comunicação deles. O cenário de risco à frente tomou uma dimensão muito relevante. A desaceleração da economia global tem consequências por aqui e corrobora para queda da Selic”, pontua o economista.
“Faz algum sentido a gente desacelerar nem que seja para voltar depois”, completa.
Taxa Selic hoje: alta pode chegar ao fim antes de 15% ao ano
No Boletim Focus, pesquisa semanal dos economistas de mercado, a taxa Selic deve sair dos 14,25% atuais para 15% ao ano até dezembro.
Economistas, contudo, exercem cautela nos próximos passos do Copom na próxima reunião.
Um deles, Matheus Pizzani, da CM Capital, afirma que o comitê deve subir a Selic em 0,50 ponto, principalmente para honrar com o consenso do mercado e não provocar instabilidade. Mas ele, ao mesmo tempo, acredita que o Copom deve comunicar uma pausa para a alta de juros.
Ou seja, o ciclo de alta da taxa Selic hoje deve encerrar em 14,75%.
Pizzani diz que a inflação continua acima da meta central de 3% do BC. Sobretudo, expectativas de inflação futura para 2027 da própria instituição, de 3,80% ao ano, estão desancoradas. Fora isso, a economia brasileira está desacelerando apenas na margem, porque o mercado de trabalho continua aquecido.
Nesse sentido, ele afirma que a redução do IPCA para 2025 no Focus não muda em nada a preocupação com os preços.
O mercado apenas reduziu expectativa porque houve queda da cotação do petróleo no período, o que resulta em queda em custos administrados, como gasolina.
“Não é para Copom tirar pé do acelerador”, diz o economista da CM Capital. “O mercado está convicto de alta de 0,50 ponto e esse compromisso já existia. Vemos o BC honrando isso, mas não enxergamos que seja necessário BC fazer outros movimentos”, completa.
Com aumento de 0,50 ponto da Selic na próxima reunião do Copom, o BC estaria chegando a um dos maiores patamares de juros reais da história em meio à incerteza. Esta é a avaliação de Rodrigo Puglisi, economista da Panamby Capital.
“Acho que o Copom vai trazer alta de 50 pontos-base com viés de pausa”, diz.
Próxima reunião do Copom: o que esperar do comunicado
Na próxima semana, o Copom deve emitir um comunicado com mudança de tom segundo os economistas.
Em primeiro lugar, nenhum dos especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira prevê a inclusão de uma nova projeção, ou guidance, de futuras altas nos juros.
No cenário do Banco Inter, o Copom deve subir a Selic para 14,75% e interromper o ciclo por todo 2025. Rafaela Vitória, economista-chefe da instituição, espera que o comitê “deixe em aberto” o movimento da Selic nas próximas reuniões a partir de maio.
“A incerteza é elevada, mas o patamar de juros é bastante elevado”, comenta. Ao mesmo tempo, a alta de 3 pontos percentuais da Selic concluída na última reunião do Copom “ainda não foi sentida pela economia”.
Mesmo sem guidance, o Copom deve se ater a um comunicado com perspectiva mais suave à frente, diz Pedro Paulo Silveira, economista da A3S Investimentos.
Ele projeta uma Selic de 15% ao final de 2025, com alta de 0,50 p.p. nesta próxima reunião do Copom e mais uma de 0,25 ponto na seguinte.
Leia a seguir