Consignado privado pode ‘aumentar sensibilidade’ da taxa Selic, diz diretor do BC

Modalidade de crédito criada pelo governo, consignado privado pode incrementar renda do brasileiro e impactar taxa Selic, diz Nilton David

A entrada do consignado privado para trabalhadores celetistas pode ter impacto sobre a sensibilidade da taxa Selic, afirmou nesta segunda-feira (31) o diretor de política monetária do Banco Central, Nilton David.

Em transmissão com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, David disse que a modalidade de crédito criada pelo governo pode gerar redução de custo de dívidas dos brasileiros, além de incrementar a renda, o que geraria efeito na taxa Selic, dado o estímulo ao consumo.

Por outro lado, o BC ainda não tirou conclusões formais sobre o consignado privado porque estuda os impactos da medida, comentou o diretor da autoridade.

“Podemos ter somente uma troca formal de crédito”, disse.

David ainda ainda comentou que, por enquanto, “não caberia” incluir criptoativos em seu balanço de reservas internacionais, em contraponto ao que o governo de Donald Trump propõe para suas reservas.

Como o BC vê influência do consignado CLT na taxa Selic

O Banco Central, contudo, não descartou o cenário em que o crédito consignado para trabalhadores privados geraria um aperto na renda.

Para Nilton David, um desdobramento plausível seria o uso do consignado CLT para aumentar o endividamento via consumo e, assim, comprometer a renda dos brasileiros.

“O usuário (do consignado privado) está interessado em trocar de crédito ou incrementar a renda? Não sabemos”, disse em transmissão. “Outra alternativa seria o extremo oposto: de gerar endividamento novo, associado a comprometimento da renda. Mas não temos conclusão por enquanto”. O BC divulgou o último relatório de política monetária sem calcular impactos da modalidade.

Contudo, para o diretor de política monetária, a explosão de crédito no Brasil dá sinais de enfraquecimento.

David explica que a busca de investidores por títulos de crédito incentivados e isentos de imposto de renda levou a taxa neutra de juros a mudar de patamar. Mas considera que o efeito não deve se prolongar no tempo, e o Banco Central vê sinais de uma desaceleração na emissão desses títulos.

“Os títulos isentos caíram no gosto do investidor em veículos offshore, pela isenção. Ao mesmo tempo, bem simultâneo a isso, fundos de investimento multimercado tiveram performance aquém do habitual. Basicamente o fluxo de 4% do PIB que deixou a categoria foi para crédito”, comentou David.

“Houve excesso de demanda por crédito, foi ali um impulso além do normal. Soma-se a isso outros fatores que foram nessa direção, como o próprio consignado, que vai na direção de redução de custo, temos maior sensibilidade de política monetária”, continuou.

Apesar de argumentar que os incentivados fizeram com que “a taxa Selic percebida fosse aquém da neutra”, o diretor do Banco Central reconhece que o patamar da Selic hoje é restritivo.

“Daqui a quatro a cinco meses a inflação não deve arrefecer, enquanto vamos esperar as expectativas dos agentes. É assim que vamos calibrar”, disse David ao se referir sobre os próximos passos do ciclo da Selic.

‘Não caberia ter reservas em criptoativos’, diz diretor do BC

Para Nilton David, o Banco Central não enxerga possibilidade de montar uma reserva internacional de criptoativos dentro do balanço de moedas estrangeiras.

A maior parte da reserva internacional do BC é em dólar. Atualmente, a autoridade monetária possui US$ 332,5 bilhões em estoque cambial, descontando contratos de derivativos em dólar (swaps) e operações em linha.

“Não caberia ter nas reservas de criptoativos. Se quisessemos ter esse tipo de ativos seria mais para acompanhar o mercado”, comentou o executivo. Ele sinalizou que o BC foca em compor suas reservas com ativos usados com foco em gerir passivos e políticas comerciais.

A agenda de tecnologia do Banco Central, neste momento, se volta para o aprimoramento do Pix. David disse que o BC não fará investimentos equivocados no DREX, promessa do real digital, para que não se erre a mão sobre a função da ferramenta.

“Não tenho opinião muito forte sobre DREX. Se deveria ser moeda digital ou facilitador de transações digitais via token. É algo que ainda estamos tentando antecipar”, disse o diretor. “A beleza de escolher qual o caminho à frente, mas o risco é fazer um investimento, que não é baixo, sem dar frutos”, ponderou.

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