Análise: Após Trump, Copom acena com pausa no ciclo de aumento de juros
Com guerra comercial iniciada pelos EUA, diretores do BC agora veem um balanço mais equilibrado de riscos para a inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central moderou o tom do discurso de combate à inflação e sinalizou, nesta quarta-feira (7), que o ciclo de aumento de juros pode ter chegado ao fim.
No documento em que explicou os motivos que o levaram a elevar a Selic, de 14,25% para 14,75% ao ano, a autoridade monetária afirmou ver um cenário de maior equilíbrio entre os riscos de alta e de queda de preços. Por isso, sinalizou que deve preferir esperar. A decisão foi unânime dos nove diretores.
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“O cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, diz trecho do comunicado.
Desde setembro de 2024, quando a Selic estava em 10,5% ao ano, o Copom subiu a taxa seis vezes.
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A decisão desta quarta-feira veio em linha com a expectativa majoritária do mercado.
A maioria dos economistas segundo o último relatório Focus, pesquisa do BC com economistas, foi de que a Selic fechará 2025 justamente em 14,75% ao ano. Ou seja, sem novos ajustes até dezembro.
Mudança de tom após guerra comercial de Trump
O mais recente encontro do Copom foi o primeiro desde que o governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, anunciou aumentos generalizados de tarifas comerciais, o que abalou os mercados, que viu como resultante uma maior chance de recessão e pressão inflacionária no mundo.
Este mesmo receio permeou a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) também nesta quarta-feira, de manter o juro básico do país no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano.
O Copom igualmente viu o cenário global com preocupação, citando a possibilidade “de efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países”.
Ou seja: não está claro no momento se o risco maior é de desaceleração econômica ou de aumento de preços.
No primeiro caso, as autoridades monetárias poderiam cortar juros para impedir uma recessão. Já na segunda hipótese, os bancos centrais poderiam ir na direção contrária.
Inflação doméstica acima da meta segue incomodando o BC
Em relação ao cenário doméstico, o BC repetiu preocupações que já vinha manifestando nos últimos meses, como o fato de as expectativas de inflação ainda estarem distantes da meta que serve de referência para a autoridade monetária.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos últimos 12 meses até março foi de 5.48%, bem acima da meta do BC, que é de 3% ao ano.
De todo modo, a instituição agora passou a ver um cenário mais balanceado.
De um lado, há a ‘desancoragem’ das expectativas. Ou seja, as expectativas do mercado são de que a inflação seguirá acima da meta por vários meses.
A mediana das expectativas dos economistas consultados pelo BC aponta que o IPCA subirá 5,53% em 2025 e 4,51% no ano que vem.
Além disso, o BC também frisou que a inflação de serviços segue muito alta e que um dólar mais alto também podem pressionar os preços domésticos.
Por outro lado, o BC agora vê com mais atenção o risco de uma desaceleração econômica mais forte do que se esperava, tanto por causas domésticas quanto internacionais. Ademais, o comunicado citou a redução nos preços de produtos como petróleo.
De fato, isso já vem acontecendo nas últimas semanas.
O que fazer agora com meus investimentos?
Para especialistas consultados pela Inteligência Financeira, com o fim iminente do ciclo de aumentos da Selic, é hora de o investidor prestar mais atenção em ativos de renda fixa prefixados.