Os bastidores da mudança no comando da CVC (CVCB3)

Companhia de turismo tem que finalizar reestruturação com oferta de ações até novembro

Empresas citadas na reportagem:

A saída de Leonel Andrade da presidência da CVC (CVCB3) surpreendeu, mas não é que a companhia esteja tão à deriva quanto o anúncio inesperado na quarta-feira à noite fez parecer. O processo de substituição, tanto para cadeira de presidente quanto diretor financeiro, coordenado por uma consultoria de headhunter, foi iniciado há um mês.

Ontem à noite, a companhia comunicou a contratação de Carlos Wollenweber como CFO, cargo que o executivo ocupava na incorporadora Melnick. Andrade vinha acumulando a função desde abril, quando Marcelo Kopel renunciou.

Já há um favorito para a cadeira de CEO e a expectativa da companhia é conseguir finalizar as tratativas nas próximas semanas, apurou o Pipeline, site de negócios do Valor. “O CEO deve ser anunciado dentro de um mês, no máximo. Depende da negociação de prazos com o executivo”, diz fonte próxima à companhia.

Andrade já tinha manifestado ao conselho sua intenção de deixar a empresa, por questões pessoais, principalmente, mas também por um certo desgaste com o board sobre o ritmo de reestruturação e retomada, que se mostraram um pouco mais complexos do que inicialmente traçado, dado o cenário macro e um mercado de capitais arredio.

O ex-CEO tinha um pacote de retenção, que ia até 2025, e com a renúncia fica sem essa remuneração do período. Até houve uma conversa sobre remuneração temporária adicional para esperar o anúncio de um substituto, mas acabou não avançando, e ele decidiu sair antes dessa definição.

Uma vez que já tinha decidido sair, Andrade não queria ser o rosto à frente do roadshow da companhia, já que não estaria na execução após a captação e portanto não poderia assumir compromissos com os investidores.

A CVC precisa fazer uma oferta subsequente de ações (follow-on) de, ao menos, R$ 125 milhões até novembro, conforme acordado com credores quando reestruturou R$ 655 milhões em dívidas que venciam no curto prazo.

O novo CEO terá pela frente o desafio de concluir a implementação da reestruturação operacional e de atrair esse capital para a companhia – o que não será fácil, considerando a reação do mercado nesta quinta-feira. A ação caiu 4,6%, a R$ 2,68, liderando as perdas do Ibovespa e, na avaliação do Bank of America, tem espaço para cair mais.

Em relatório após a saída de Andrade, o banco reduziu a estimativa de preço-alvo de R$ 9 para R$ 1,60, e a recomendação foi rebaixada de neutro para venda. O Bank of America foi um dos coordenadores do “follow-on” da CVC em junho do ano passado e a última atualização de preço-alvo havia sido em novembro. Em 12 meses, a queda acumulada do papel é de 75%.

Há dois meses, a operadora de turismo negociou o pré-pagamento de R$ 124 milhões aos debenturistas, para obter uma extensão de três anos e meio de prazo do restante da dívida, com aumento de juros, mas com carência até novembro de 2024.

Na parte operacional, a CVC tenta se adaptar ao novo modelo do turismo após a pandemia, que elevou uma série de tarifas na indústria como passagens áreas. O “take rate” – taxa que mostra o que a CVC fatura em embarques realizados, depois de pagar fornecedores como hotéis e aéreas – caiu 2,3 pontos percentuais no primeiro trimestre, para 7,4%. Além disso, a queda do poder de compra dos clientes da empresa, com inflação comendo a renda, também pode afetar a demanda.

Para um gestor de ações, se a empresa conseguir melhorar os resultados operacionais e entregar o que prometeu, é possível captar esses recursos no mercado – se a taxa de juros cair e o ambiente macroeconômico ajudar. Wollenweber, o novo CFO, participou do roadshow de IPO da Melnick, experiência que pode ajudar nesse processo.

Um credor avalia que a saída do CEO não deve alterar o plano de reestruturação já em curso. “Se não tiver apetite no mercado para uma oferta de ações, os principais acionistas devem aportar. É um compromisso da empresa buscar essa capitalização”, diz.

A CVC tem entre os principais acionistas os fundos do Pátria e do Opportunity, esse último com participação de 18,5%. Ambos têm assento no conselho de administração. Num relatório hoje, o Citi avalia que os acionistas de referência parecem mais engajados recentemente, o contraponto positivo para uma visão negativa do banco sobre a renúncia de Andrade.

“Agora vou virar turista e cliente da CVC, em tempo integral e pelos próximos meses”, escreveu o ex-CEO no LinkedIn.

Por Silvia Rosa e Maria Luíza Filgueiras, do Valor Econômico

Este texto foi originalmente publicado pelo Pipeline, o site de negócios do Valor Econômico

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