Onda de aquisições por grupos hospitalares deve continuar em 2022

Mesmo depois de fortes movimentos de consolidação no setor de saúde nos últimos meses, empresas do segmento disseram manter o apetite para mais negócios. O tema ocupou bastante espaço das teleconferências de analistas com executivos da Dasa, Mater Dei e Rede D’Or na semana passada. Entre as maiores aquisições recentes está a compra da SulAmérica pela Rede D’Or, anunciada em fevereiro.
“As pessoas falam em dança das cadeiras [ante as diversas consolidações]. Mas estamos tendo movimentações na verdade de placas tectônicas. O setor está mudando de forma significativa e rápida”, disse Rafael Cardoso Cordeiro, diretor financeiro da Mater Dei.
Cordeiro não deu detalhes, mas disse que ainda há grandes movimentos de consolidação no radar. “A rede Mater Dei é peça importante. Temos sido procurados e a gente procura stakeholder do nosso setor na qual teríamos movimentações significativas também. Somos peças importantes nas mudanças que estão acontecendo no setor”, disse.
A empresa tem 2.723 leitos no portfólio, considerando aquisições recentes como o Hospital Santa Genoveva e o Grupo Porto Dias. Desde sua estreia na bolsa, em abril de 2021, o grupo fez seis compras — de cinco hospitais e uma empresa de análise de dados e inteligência artificial —, investindo cerca de R$ 2 bilhões e dobrando sua capacidade de atendimento.
Maior grupo hospitalar do país, a Rede D’Or avança para comprar a SulAmérica, seguradora que tem 4,5 milhões de usuários de planos de saúde e dental. O negócio, que ainda aguarda aprovações regulatórias, prevê que os acionistas da seguradora receberão 13,5% da D’Or, com prêmio de 49,3% ante o preço da ação em 18 de fevereiro. A compra será alvo de assembleia com acionistas em 14 de abril.

O diretor presidente da Rede D’Or, Paulo Moll, defendeu que o negócio com a SulAmérica não interfere nos planos da empresa de continuar crescendo via aquisições. A empresa adicionou 2.213 leitos com 17 aquisições até o primeiro trimestre deste ano desde a abertura de capital, em dezembro de 2020. “A gente não muda modelo de negócios das companhias. Rede D’Or tem grande maioria da receita vindo de operadoras. E no caso da SulAmérica obviamente a gente vê muita oportunidade de crescimento pela força da marca”, acrescentou.
Otávio Lazcano, diretor financeiro e de relações com investidores da Rede D’Or, demonstrou otimismo com o futuro do negócio e disse que há espaço para diversas sinergias, entre melhor utilização de ativos imobiliários (que pode liberar caixa) e redução de custo de transação entre as empresas. Há ainda eficiências fiscais e tributárias que o grupo espera capturar.
“[Vemos também] potencial redução do endividamento da empresa expandida. A Rede D’Or tem custo de capital e prazo de endividamento bastante dilatado. E a SulAmérica é caixa positivo e vai contribuir com o Ebitda e permitir reduzir o endividamento líquido”, afirmou.
O cenário traz uma musculatura para a empresa acelerar investimentos futuros e, segundo o executivo, abre janela para a distribuição de dividendos. Apesar de questionado, ponderou que não iria fornecer estimativa monetária para as sinergias por enquanto. A aposta é ter um veredicto final sobre o negócio junto a reguladores ainda neste ano.
A Rede D’Or São Luiz registrou lucro de R$ 419,5 milhões no quarto trimestre do ano passado, alta de 38,5% ante 2020. Entre janeiro e dezembro, o lucro líquido cresceu 265,2%, para R$ 1,67 bilhão. A receita líquida avançou 23,2% no comparativo trimestral, somando R$ 5,13 bilhões.
A Dasa, líder no mercado de medicina diagnóstica, iniciou seu processo de aquisições na área hospitalar há cerca de um ano e meio e desde então investiu cerca de R$ 2,5 bilhões na compra de nove hospitais. Atualmente, conta com 15 unidades hospitalares, que juntas têm 3,5 mil leitos, vice-líder nesse segmento, atrás apenas da Rede D’Or.
Felipe Guimarães, diretor financeiro da Dasa, defendeu que a empresa continua atenta a oportunidades de aquisição neste ano, embora defenda que o foco para 2022 é integrar os ativos já adquiridos.
“A gente acredita que tem boas oportunidades para continuar fazendo consolidações. Tende a ser um ano em que as aquisições continuem, embora em menor nível do que em 2021”, disse.
Na sexta-feira à noite, a empresa informou ao mercado a compra do Centron — Centro de Tratamento Oncológico, do Rio de Janeiro. No quarto trimestre, concluiu a aquisição do Hospital da Bahia e do São Domingos, que adicionaram 679 novos leitos ao portfólio.
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