Mercado imobiliário não vê fuga de investidor, mas perfil deve mudar

Diante de um cenário de estimativas de queda de lançamentos e vendas de imóveis novos na capital paulista em 2022, na faixa de 10% a 15%, o setor conta com a permanência do investidor no mercado imobiliário. Com as seguidas altas da taxa básica de juros que levaram a Selic para dois dígitos, muitos investimentos deixados de lado nos últimos anos voltaram a ser atrativos e concorrem com ativos com perfil de ganhos de mais longo prazo e baixa liquidez como os imóveis.
Ao apresentar ontem o balanço do setor na capital paulista em 2021 e estimativas para este ano, o novo presidente executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, afirmou que “pode se esperar um interesse menor (diante do atual momento de juros altos), mas não a ponto de derrubar o setor (dos planos) do investidor”. Ele entende que o atual momento vai levar o investidor a ser mais seletivo e isso acaba sendo mais saudável para a construção civil.
“Acredito que em 2023, passada a questão política e qualquer que seja a nova equipe econômica, teremos um ano melhor. Só haveria uma fuga de investidores se a taxa permanecer elevada por dois ou três anos, mas nesse caso não teria mais o que analisar”, afirmou, no sentido de que o Brasil não suportaria uma recessão dessa magnitude.
O economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, estima que entre 10% a 15% do total comercializado no ano passado, incluindo os imóveis do programa habitacional Casa e Verde Amarela, foram adquiridos por investidores. A grande maioria ainda é destinada a moradia final e não à locação. “Mas não podemos esquecer que anos de eleição sempre provocam volatilidade no mercado financeiro. E apesar de ser um jargão muito usado, lembro que imóvel é moeda forte”, afirmou Petrucci.
Wertheim destaca ainda que o mercado de locação no Brasil está apenas começando e tem muito potencial para crescer. E é nesse segmento que há espaço para os investidores. Ele cita mudanças de comportamento dos mais jovens, que tem optado por alugar ao invés de comprar um imóvel. “Além disso, agora é a hora de comprar, com os preços mais estabilizados.”
O mercado de imóveis novos na cidade de São Paulo fechou 2021 com crescimento de lançamentos e vendas acima da expectativa do próprio setor. Foram lançados 81,8 mil unidades na capital paulista em 2021, crescimento de 36%. A expectativa anterior era ficar na faixa entre 70 mil e 75 mil, alta de 17% a 25%.
Já o volume de vendas somou 66,1 mil unidades no ano passado, crescimento de 29%. A estimativa anterior do Secovi-SP era de vendas entre 60 mil e 65 mil unidades, com a expansão variando entre 17% e 26%.
As estimativas iniciais para o ano, no entanto, colocam o setor em compasso de espera. A previsão inicial é de queda entre 10% a 15% nas vendas neste ano, ficando na faixa entre 55 mil e 60 mil unidades. Já para o volume de lançamentos a previsão é ficar entre 65 mil e 70 mil unidades, também com queda na faixa entre 10% e 15%. As incorporadoras devem priorizar a venda do que já foi lançado neste início de ano.
Para Petrucci, a previsão de redução da atividade do setor neste ano é reflexo da perspectiva da atividade economica como um todo para o país. “Não é motivo de preocupação. Nossa previsão tem de se adequar à realidade da economia do mercado”, afirma.
Entre os principais desafios do setor em 2022 novamente está a inflação dos materiais de construção. Wertheim se mostra menos preocupado com os reajustes salariais. “Isso é do jogo, não reclamamos”, disse. Já em relação aos materiais a postura é bem diferente. “Aí enfrentamos oligopólios, como no cimento e no aço.”
Questionado sobre a decisão das siderúrgicas de reajustarem o aço entre 10% e 15% já neste mês, como noticiou o Valor na segunda-feira, Wertheim classificou como “uma guerra de narrativa”. “Não vejo margem para reajustes. A produção (e a oferta) já está equilibrada, o câmbio está mais baixo”, afirmou, indicando que deve haver uma forte queda de braço entre os dois setores.
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