Grupo MRV reporta prejuízo líquido anual histórico

Incorporadora projeta melhora nos indicadores de margem e geração de caixa no segundo semestre; perda somou R$ 202,5 milhões

O grupo MRV&Co acumulou, em todo o ano passado, prejuízo líquido atribuído aos acionistas controladores de R$ 202,5 milhões, frente a um lucro líquido de R$ 805 milhões em 2021.

Segundo Ricardo Paixão, diretor-financeiro da holding, ter prejuízo líquido em todo o ano é fato inédito para a incorporadora. A companhia divulgou seus resultados do quarto trimestre e de 2022 nesta quarta-feira (8).

O lucro líquido ajustado foi de R$ 22 milhões no ano passado, queda de 97,6%. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) em 12 meses foi de R$ 810 milhões, recuo de 42,9%.

A receita líquida no ano somou R$ 6,6 bilhões, queda de 6,8%. A margem bruta anual ficou em 19,7%, recuo de 6,2 pontos percentuais ante 2021.

Nos 12 meses, a MRV&Co, controladora da MRV Engenharia, reduziu os lançamentos em 3,1%, a R$ 9,15 bilhões. As vendas líquidas acompanharam o patamar: menos 2,8%, para R$ 7,9 bilhões.

No quarto trimestre, a companhia reportou prejuízo líquido de R$ 333,4 milhões, revertendo lucro de R$ 300 milhões no mesmo período de 2021. O prejuízo líquido ajustado teve queda de 142%, para R$ 146,2 milhões. A receita líquida recuou menos, em 12,7%, para R$ 1,66 bilhão.

Também entre outubro e dezembro, a MRV&Co elevou seus lançamentos em 7,3%, para R$ 3,5 bilhões, mas teve queda de 14,2% nas vendas líquidas, que somaram R$ 2 bilhões.

A margem bruta ficou em 20,2%, queda de 3,2 pontos percentuais. Já a margem bruta de novas vendas foi de 29% no período, crescimento de 10,3 pontos percentuais ante o quarto trimestre de 2021.

Paixão diz ser esperado que essa margem de novas vendas imponha uma melhora da margem bruta da companhia já no segundo semestre, com “recuperação completa” no final de 2024.

O ticket médio das unidades de incorporação da holding foi de R$ 208 mil, alta de 22,7% sobre o final de 2021. A companhia quer que esse valor continue subindo e chegue a R$ 230 mil até dezembro deste ano.

Paixão afirma que as atualizações feitas no Casa Verde e Amarela – atual Minha Casa, Minha Vida -, devem aumentar o poder de compra do consumidor, permitindo a alta de preço. Também ajuda a sinalização do governo federal de priorizar o programa habitacional.

Na incorporadora, a meta é trabalhar com 40 mil unidades vendidas no ano, mas Paixão diz ser possível elevar o número em 10% ou 15% por causa do novo programa habitacional da prefeitura de São Paulo, o Pode Entrar.

A MRV se inscreveu para vender 6 mil unidades à prefeitura – o programa vai comprar, ao todo, 40 mil unidades.

O Pode Entrar tem sido elogiado por incorporadores de baixa renda por ser “mais seguro”, como afirma Paixão, do que a faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida. “O principal diferencial é que recebemos todo o dinheiro à vista”, afirma o executivo. O valor das unidades, que podem custar até R$ 210 mil, fica bloqueado em uma conta e é liberado conforme a construção progride.

Em 2022, a MRV&Co teve queima de caixa de R$ 2,2 bilhões, 302% mais do que em 2021. Paixão afirma que a companhia deve terminar 2023 com pequena geração de caixa, revertendo a tendência atual.

Além de buscar mais rentabilidade nos projetos, a holding está segurando a produção da Resia, sua subsidiária americana, responsável por mais da metade da queima de caixa (R$ 1,3 bilhão no ano). Um quarto do quadro de funcionários foi cortado no último trimestre e a produção anual de unidades deve ficar entre 1.800 e 2.000, ante plano inicial de 3.500.

A Resia constrói prédios residenciais para locação, que são vendidos para empresas. “É queima de caixa natural, primeiro tenho todo o gasto para depois fazer a venda”, afirma.

A holding da família Menin terminou 2022 com dívida líquida de R$ 4,7 bilhões, alta anual de 75%. Ela controla ainda Luggo (prédios para locação) e Urba (loteamentos).

Por Ana Luiza Tieghi, do Valor Econômico

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