Tarifas de Trump geram pânico no mercado de Treasuries e disparada global dos juros

A aplicação de tarifas por Trump provoca estresse no mercado de Treasuries, disparando juros globais e gerando preocupações sobre uma possível intervenção do Fed
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  • Tarifas americanas geram estresse no mercado de Treasuries, impactando a liquidez global.
  • Taxa do T-bond de 30 anos chegou a 5%, elevando juros em todo o mundo.
  • Mercado observa a possibilidade de intervenção do Federal Reserve (Fed).
  • Queda nos preços dos Treasuries impulsionou os juros de longo prazo.
  • Pressão sobre mercados de juros em países como Japão e Reino Unido.
  • Estrategistas alertam para a reduzida demanda por títulos americanos e risco de danos ao crescimento global.
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A turbulência provocada, sobretudo nos mercados de ações, pela aplicação de tarifas “recíprocas” contra parceiros comerciais pelos Estados Unidos e a megatarifa de 104% sobre bens chineses já provoca estresse ainda mais agudo no mercado de Treasuries, o que ajuda a drenar a já escassa liquidez dos títulos globais e afeta o comportamento das bolsas ao redor do globo. Durante a madrugada, a taxa do T-bond de 30 anos chegou a subir a 5%, em uma escalada expressiva, que tem gerado no mercado algum questionamento sobre as chances de intervenção do Federal Reserve (Fed) na renda fixa.

O pânico teve início ontem, quando os juros de longo prazo dos EUA começaram a subir de forma acentuada, em um movimento que teve continuidade ao longo da madrugada. Diante de uma intensa “corrida pela liquidez” nos mercados com a entrada em vigor das tarifas batendo à porta, o spread entre os rendimentos dos títulos públicos e os swaps de juro — o que, no Brasil, costuma ser chamado de “casado” — despencaram desde ontem, em um movimento que provocou uma venda de Treasuries no mercado secundário como forma de voltar a aumentar o “gap” entre as duas taxas.

Como consequência, a queda dos preços dos Treasuries impulsionou de forma expressiva os juros dos papéis de longo prazo, provocando uma disparada similar à observada em períodos de estresse, como na crise da covid (2020) ou na turbulência vista no mercado de “repo” (2019). Nas duas ocasiões, o Fed teve de intervir nos mercados para garantir liquidez e foi obrigado a fazer operações de compra de papéis, na tentativa de amenizar o salto no nível das taxas.

Agora, movimento semelhante é observado, diante do estresse no “casado” dos juros americanos de longo prazo, o que tem gerado alguma preocupação em torno das operações nos mercados globais de renda fixa, que poderiam ter ficado grandes demais sobretudo em um momento delicado na dinâmica dos mercados. Por volta de 7h, o retorno da T-note de dez anos subia de 4,304% para 4,367%, afastado da máxima de 4,516%. Já a taxa do T-bond de 30 anos ainda exibia alta firme, ao passar de 4,777% para 4,833%, mas longe do pior momento do dia, quando chegou a 5,021%.

Ao longo da noite, sinais de que a China poderia estar disposta a negociar com os EUA amenizaram a pressão sobre os mercados de forma geral. No entanto, o nível ainda bastante elevado das taxas longas americanas gera consequências ao redor do globo, com pressão sobre os mercados de juros também em outras praças vistas como seguras, como o Japão.

Durante a noite, a taxa do bônus do governo japonês (JGB) de dez anos alcançou máxima histórica, ao subir a 3,166% durante a sessão, antes de fechar negociada a 3,056%. Foi uma alta expressiva de 0,184 ponto percentual nos juros de longo prazo japoneses, em um mercado que não é acostumado a sofrer com volatilidade tão elevada e que, até pouco tempo atrás, tinha parte da curva de juros “controlada” pelo Banco do Japão (BoJ).

Além disso, países que têm começado a ficar sob o escrutínio dos investidores devido a questões fiscais também são penalizados, como é o caso do Reino Unido, diante da busca desenfreada por liquidez. Por volta de 7h (de Brasília), o rendimento do Gilt britânico de 30 anos saltava a 5,470%, em torno dos maiores níveis desde 1998.

“O ‘casado’ e os prêmios de risco estão elevando os juros longos [nos EUA] e o Fed até agora não deu nenhuma indicação de que esteja mudando sua postura de neutralidade no momento”, dizem os estrategistas do Société Générale em nota enviada a clientes. Eles lembram, no entanto, que a demanda pelos papéis da dívida americana já não tem sido muito elevada e lembram que, na tarde de ontem, o leilão de T-notes de três anos mostrou uma demanda muito fraca e abaixo da média, mesmo em um momento de busca por segurança nos mercados, e notam que não houve demanda, em especial por parte do investidor local americano.

“A corrida por liquidez é evidente no colapso dos spreads entre os títulos e os swaps e o clima está ficando novamente negativo para as bolsas e para o mercado de crédito”, dizem os estrategistas do banco francês. Para eles, a liquidez reduzida e a destruição de riqueza para as famílias “ameaçam infligir danos ao crescimento global e pressionam governos e bancos centrais com espaço de manobra fiscal e monetária para agir e tentar compensar o choque”.

Com informações do Valor Econômico

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