Shoppings têm onda de aquisições, com 15 ativos e negócios de R$ 3,5 bi

Grandes e médios shopping centers do país estão trocando de mãos nos últimos meses, num movimento muito mais relacionado com a necessidade de grupos reduzirem alavancagem, e pelo surgimento de compras de oportunidade nos últimos meses, do que pela atual retomada do setor. É um cenário comum em períodos pós-crise econômica e de juros altos, e sinaliza que, quando as condições de mercado melhorarem, novas negociações de maior porte podem ser “destravadas”, dizem empresas e associações ouvidas.
Levantamento realizado pelo Valor mostra que, desde o terceiro trimestre de 2021, 15 empreendimentos foram vendidos ou estão em processo de negociação. Com base nos valores anunciados pelas empresas nas transações e apurado com fontes próximas aos acordos, são pouco mais de R$ 3,5 bilhões em ativos mudando de dono (incluindo a dívida). Ao se descontar débitos em aberto, os valores giram em torno de R$ 2,9 bilhões, em transações a partir de outubro.
Entre compradores estão grupos regionais fortes, como a Partage, e entre vendedores, os destaques foram General Shopping e grupo Tenco, ambos afetados mais duramente pela crise após 2020. “Devemos ver, no curto prazo, menos projetos greenfields [construídos a partir do zero] e mais um movimento de consolidação com a venda e compra de ativos, por razões que vão da busca por sinergias após a crise a revisões de portfólio e foco maior no ‘core’ das empresas”, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce, a associação setorial, ao comentar nesta semana a aceleração nas vendas neste ano. A Abrasce reviu a expansão do segmento de 13,8% para 17,3% em 2022, após início de ano forte.
Segundo o levantamento, a maior negociação envolve a venda da participação da Aliansce Sonae em quatro negócios, em somas que podem variar de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão, diz uma fonte a par do tema. A soma considera a fatia da empresa nos ativos. A companhia deve se fundir com a BR Malls, e vem buscando, já previamente, compradores para negócios com maior risco concorrencial. Os empreendimentos já identificados, como o Valor informou em abril, são Uberlândia Shopping (MG), Boulevard Londrina (PR), Boulevard Vila Velha (ES), e provavelmente o Caxias Shopping (RJ).
Ainda nessa lista de transações, a General Shopping vendeu, em abril, 49% do Outlet Premium Grande São Paulo, em Itaquaquecetuba (SP), um dos melhores ativos do grupo, por R$ 152,3 milhões. A operação surpreendeu o mercado e foi interpretada por gestores de fundos como busca de reforço de caixa, apurou o Valor.
A empresa não cita o nome do comprador. A General tinha em março pouco menos de R$ 47 milhões em caixa e em 2021 gerou um Ebitda de R$ 56 milhões. Em março, somava uma dívida de R$ 1,7 bilhão (parte em dólar de um bônus perpétuo, sem vencimento do principal). A companhia não comenta detalhes da transação.
Na visão de Claudio Sallum, sócio da Lumine, uma das maiores gestoras de shoppings do país, o mercado já vive outro movimento, em paralelo a essas transações de ativos. “O que temos visto é uma maior consolidação na gestão, com mais companhias buscando administradoras com portfólio maior, principalmente depois da pandemia. Isso por causa dos ganhos de escala e diluição de custos que essas carteiras maiores criam”, diz ele. A Lumine, em três anos, dobrou sua carteira de clientes de oito para 15 shoppings.
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