Retomada na zona do euro resiste ao surto da ômicron

A variante ômicron vem causando menos danos à economia europeia do que as ondas anteriores da covid-19, segundo análise do “Financial Times” a partir dos chamados dados de “alta frequência”
Pontos-chave
  • A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou ontem considerar que a pandemia de covid na Europa esteja caminhando para o fim

  • Silvia Ardagna, economista do Barclays, prevê que, apesar da ômicron, a economia da zona do euro deve ter crescido perto de 0,2% durante o quarto trimestre de 2021 e voltará a repetir o desempenho no primeiro trimestre deste ano

Arte: reprodução Valor Econômico

A variante ômicron vem causando menos danos à economia europeia do que as ondas anteriores da covid-19, segundo análise do “Financial Times” a partir dos chamados dados de “alta frequência”, graças em parte aos bons índices de vacinação e à melhora na capacidade da sociedade para conviver com o vírus.

Ao mesmo tempo, em outro sinal positivo para o continente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou ontem considerar que a pandemia de covid na Europa esteja caminhando para o fim. “É plausível acreditar que a pandemia na região esteja no final”, disse o principal responsável da OMS no continente, Hans Kluge.

“Quando o atual surto de ômicron se reduzir, haverá, por semanas ou meses, imunidade geral – seja em razão da vacina ou porque as pessoas ficarão imunes devido às infecções”, afirmou Kluger, apesar de ressaltar que é cedo para considerar a covid-19 como doença endêmica. “Endemia significa que podemos prever o que vai acontecer. E este vírus nos surpreendeu mais de uma vez.”

Embora os índices de contágio na região do euro tenham aumentado para seus maiores patamares desde o início da pandemia, os dados relativos às vendas de ingressos de cinema, reservas de hotéis, vagas de emprego e mobilidade recuaram menos que nas ondas anteriores do coronavírus.

A esta altura em 2021, as visitas a lojas, bares e restaurantes tinham caído mais de 40% em relação aos níveis pré-pandemia. Neste ano, em contraste, as visitas caíram menos da metade disso, segundo dados de mobilidade do Google. “O impacto econômico da pandemia vem perdendo força”, disse Bert Colijn, economista do ING. “Os níveis relativamente altos de mobilidade são positivos para a atividade econômica.”

Isso se reflete nas previsões de crescimento dos economistas. Silvia Ardagna, economista do Barclays, prevê que, apesar da ômicron, a economia da zona do euro deve ter crescido perto de 0,2% durante o quarto trimestre de 2021 e voltará a repetir o desempenho no primeiro trimestre deste ano. Ela também projeta um “crescimento sólido em 2022-2023, impulsionado pela demanda interna”.

Também há poucos sinais de que a ômicron tenha impactado muito o mercado de trabalho, de acordo com dados do Indeed, um site de busca de emprego. O desemprego na zona do euro já havia caído em novembro para abaixo da média pré-pandemia, de 2019.

“[O desemprego] cairá para níveis que nunca vimos antes [na zona do euro]”, disse Claus Vistesen, economista da Pantheon Macroeconomics, para quem a escassez de mão de obra, combinada à recuperação econômica, poderá impulsionar ainda mais a inflação, que em dezembro chegou a 5%, a mais alta nos registros históricos do bloco econômico.

Ainda assim, o aumento exponencial das taxas de contágio teve sua dose de impacto na atividade econômica, pois as restrições forçaram as pessoas a se autoisolar e limitaram as reuniões públicas. A área de serviços ao consumidor foi particularmente atingida.

No primeiro fim de semana de janeiro, a arrecadação nas salas de cinema europeu nas quatro maiores economias da União Europeia ficou cerca de 20% abaixo do mesmo período de 2020, segundo dados do Mojo, um site americano que acompanha as bilheterias mundiais. Reservas de restaurantes alemães também estavam 30% menores em meados de janeiro do que no mesmo período de 2019.

Da mesma forma, turismo e viagens internacionais seguem enfraquecidos. O número de voos está 35% menor em comparação aos níveis pré-pandemia. As reservas de hotéis caíram para os níveis vistos na primavera europeia de 2021, de acordo com dados da Sojert, uma plataforma de marketing digital. Mesmo assim, as cifras representam notável melhora em relação ao que se via a esta altura do ano em 2021, quando as reservas hoteleiras haviam recuado muito mais.

“Os casos de covid-19 aumentaram pela Europa, aplicaram-se restrições e a mobilidade diminuiu”, disse George Buckley, economista do Nomura. “Ainda assim, há motivos para ser otimista”, acrescentou, projetando uma rápida recuperação na primavera europeia.

Analistas disseram que outro motivo pelo qual o impacto na atividade econômica neste ano tem sido menor é que as taxas de hospitalização e morte têm subido menos do que a dos contágios. Em 2021, taxas de contágio muito menores foram suficientes para jogar a região do euro em recessão.

Jack Allen-Reynolds, economista da Capital Economics, acredita que “a atual onda de contágios causada pela ômicron se esgotará mais rápido que as anteriores”.

De fato, nesta semana, a França comunicou que começaria a aliviar as restrições da covid-19 a partir de fevereiro, já que o crescimento dos contágios atingiu um teto na região de Paris e o mesmo deve ocorrer em breve no resto do país.

Também há a previsão de tempos melhores para a indústria. Os dados alemães sobre a quilometragem diária percorrida pelos caminhões, um indicador da produção industrial, superaram os níveis de novembro, sinal de que a política de tolerância zero da China para a covid-19 ainda não afetou as cadeias mundiais de abastecimento da indústria.

“Em termos gerais, a ômicron provavelmente será bem menos desestabilizadora do que as ondas anteriores”, disse Paul Donovan, economista-chefe da UBS Global Wealth Management.. “As pessoas aprenderam a se adaptar e isso minimiza bastante os danos.”

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