Os estragos das tarifas de Trump serão maiores do que parecem, aponta Fitch
Setores automobilístico, químico, construção civil e até restaurantes terão impacto direto ou indireto de uma guerra comercial, prevê a agência de avaliação de risco

Cadeia automotiva, commodities, tecnologia, aço. O governo de Donald Trump já sinalizou que os Estados Unidos vão criar ou aumentar tarifas sobre produtos importados destes setores. Porém, uma guerra comercial mais ampla atingiria até restaurantes e bebidas alcoólicas, previu a Fitch.
Em relatório, a agência de classificação de risco avaliou que a implementação integral de tarifas já anunciadas pelos EUA sobre importações do Canadá, México, União Europeia e China pressionará a receita e os lucros de diversos setores da economia no mundo todo.
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Inclusive porque esse cenário deve provocar um enfraquecimento global da economia, provocando consequências mais amplas.
Inicialmente, os setores automotivo, de equipamentos de tecnologia e de produtos químicos devem sofrer impacto direto, devido à exposição internacional, atividade comercial entre mercados e cadeias de suprimentos complexas, diz o relatório.
Nesta quarta-feira, a Casa Branca informou que o presidente Trump anunciará tarifas sobre importados da indústria automobilística.
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Só as fabricantes de veículos vão vender cerca de 300 mil unidades novas a menos nos Estados Unidos e outra diminuição de mesma intensidade na Europa já neste em 2025, estimou a equipe da Fitch sob direção de Emmanuel Bulle, que escreveu o documento.
Consequentemente, isso também afetará os fornecedores de autopeças e empresas industriais no México, devido à alta integração da cadeia de suprimentos com os EUA.
Ainda, o setor de recursos naturais também sofrerá com o menor crescimento.
Neste sentido, as empresas de mineração e siderurgia podem ser desafiadas pela maior concorrência em mercados fora dos EUA, à medida que as exportações são desviadas para outros mercados.
Impacto no setor de tecnologia depende do embate EUA-China
Para a Fitch, como exportam uma parcela significativa de seus produtos para os EUA, as empresas de hardware europeias e asiáticas tendem a sofrer mais com as tarifas de Trump.
“Será difícil para elas encontrar mercados alternativos para absorverem totalmente o excesso de oferta caso as exportações para os EUA diminuam após o aumento das tarifas”, afirmou a Fitch.
Essas empresas de hardware e suas contrapartes nos EUA também podem enfrentar custos mais altos da cadeia de suprimentos, relacionados a componentes importados e um aumento potencial na produção nos EUA.
Porém, a dimensão do impacto no setor dependerá da dissociação do comércio de tecnologia EUA-China.
Mas um divórcio total entre os dois mercados é improvável, avalia a Fitch, dada a complexidade das cadeias de suprimentos do setor e ao domínio da China em componentes críticos.
Isso inclui placas de circuito, monitores e telas sensíveis ao toque, bem como em processamento químico e elementos usados em dispositivos de alta tecnologia, incluindo smartphones, computadores e veículos elétricos.
Em outra frente, as indústrias químicas europeia e chinesa têm um grande superávit comercial com os EUA e podem sofrer com uma concorrência potencialmente maior, após as tarifas de Trump.
Mas a China desempenha um papel fundamental no fornecimento global de produtos químicos, limitando a capacidade dos EUA de diversificar para outros fornecedores.
A China também é a única fornecedora de matérias-primas essenciais e produtos químicos básicos para alguns ingredientes farmacêuticos ativos.
Na outra ponta, a capacidade da China de absorver o fornecimento adicional desviado para seu mercado é limitada devido ao crescimento relativamente fraco da demanda doméstica nos próximos anos, diz o relatório.
Guerra comercial mais ampla afetará até restaurantes, diz Fitch
De acordo com a Fitch, o efeito cascata de uma guerra comercial mais ampla, à medida que outras geografias reajam, também aplicando tarifas maiores.
Logo, esse cenário tenderia a reverberar em setores mais voltados para os mercados domésticos, mas dependentes de insumos do exterior.
Esse efeito inclui a construção civil. Nos EUA, construtoras estarão sujeitas a custos mais altos de madeira e gesso que podem não conseguir repassar nos preços devido à queda da confiança do consumidor, diante dos preços já altos de imóveis e das taxas de hipoteca.
Já na China, a pressão deflacionária atrasará qualquer recuperação no mercado imobiliário, que já enfrenta excesso de oferta, acrescentou
Em menor medida, setores ligados aos gastos e confiança do consumidor, como varejo, bens de consumo, hospedagem, restaurantes, companhias aéreas e até bebidas alcoólicas serão atingidas, conclui o relatório.