Oliver Stuenkel e Marcos Troyjo: estratégia de Trump com tarifas vai fracassar

- Analistas alertam para os desafios econômicos e sociopolíticos da guerra comercial entre EUA e China.
- O protecionismo americano, segundo especialistas, trará consequências econômicas significativas, afetando empresas e investidores.
- Há sinais de pânico entre parlamentares republicanos devido às medidas protecionistas e a possibilidade de limitação do poder presidencial.
- A instabilidade geopolítica aumentará, com previsão de gastos militares significativos em diversos países.
- Para o Brasil, o cenário é misto: menor risco geopolítico, mas prejuízo na estratégia de alinhamento global.
- Especialistas apontam a necessidade de uma nova visão estratégica, alertando que o foco atual pode ser equivocado.
Em meio à escalada das tensões comerciais, especialistas em política internacional alertam para os desafios econômicos e sociopolíticos que o mundo enfrentará nos próximos meses.
Oliver Stuenkel, cientista político e professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, e Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics, observam que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perturbou inúmeros aspectos da vida cotidiana em menos de três meses de mandato.
A agenda político-econômica de Trump, avaliam, o tornou o ponto focal de decisões cruciais que agora estão sendo tomadas por líderes de nações, mas também nas diretorias de pequenas a grandes empresas.
A Inteligência Financeira reuniu as principais falas de Stuenkel e Troyjo, que analisam a guerra comercial entre EUA e China, alertando para riscos econômicos e geopolíticos globais e seu impacto no Brasil. As falas foram colhidas durante a participação deles no Brazil Investment Forum, evento anual do Bradesco BBI.
O colapso do consenso global
“Trump acabou com o consenso de republicanos e democratas sobre globalização”, afirmou Oliver Stuenkel, cientista político e professor de Relações Internacionais da FGV, durante painel do evento.
Segundo ele, a crença de que a interdependência econômica impediria a China de tomar a dianteira no cenário global foi abandonada pela atual administração americana.
Na mesma linha, Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics, apresentou um “diagnóstico incômodo” aos investidores presentes.
“Os EUA se desindustrializaram por motivos geopolíticos e agora tentam reverter esse processo com protecionismo, ignorando que os salários ainda são mais baixos fora do país”.
Para Troyjo, a escalada tarifária representa um retrocesso de um século nas políticas comerciais e industriais americanas.
Desafios econômicos iminentes em tempos de guerra comercial
Os dois especialistas convergem na avaliação de que o protecionismo americano trará consequências econômicas significativas.
Troyjo foi enfático ao afirmar que a estratégia “fracassará porque superestima a capacidade de resposta dos empresários nos EUA”.
Ele alertou os investidores presentes no fórum que “se empresas montarem estrutura nos EUA para escapar das tarifas, isso vai machucar o caixa, as margens e, por derivação, as ações”.
Stuenkel complementou a análise destacando que já há “sinais de pânico entre parlamentares republicanos”, uma vez que as medidas protecionistas devem frustrar parte do eleitorado que esperava a queda da inflação.
Ele antecipou a possibilidade de “um movimento para limitar o poder presidencial sobre política tarifária”.
Instabilidade geopolítica e aumento em gastos militares
Um dos pontos mais preocupantes abordados no painel foi o aumento da instabilidade geopolítica.
“Veremos gastos militares enormes nos próximos anos”, previu Stuenkel, citando especificamente Polônia, Alemanha e Japão como países que devem aumentar significativamente seus investimentos em defesa, inclusive em capacidade nuclear.
Troyjo observou que o “custo econômico e político para os EUA deve ser prolongado porque o país agora será visto como fonte de instabilidade”.
Ele lembrou que “todos os milagres econômicos pós-Guerra tiveram aumento das exportações” e não se basearam em protecionismo.
Perspectivas para o Brasil
Para o Brasil, a avaliação dos especialistas apresentou um cenário misto.
“A América do Sul é hoje região de menor risco geopolítico do mundo, o que representa uma oportunidade para investidores”, destacou Stuenkel.
No entanto, ele ressalvou que a situação “vai prejudicar a estratégia do Brasil de alinhamento global”.
Troyjo concordou que as “mudanças em curso tornam o mundo mais perigoso, mas não necessariamente ruim para o Brasil”.
Ele ofereceu uma perspectiva sobre a China que chamou a atenção dos presentes: “A China não tem um projeto para o mundo, quer só enriquecer”, uma observação que sugere pragmatismo nas relações comerciais chinesas.
O futuro da ordem comercial global
Os especialistas concordaram que estamos testemunhando uma reconfiguração profunda das cadeias globais de valor, com consequências ainda imprevisíveis para o comércio internacional.
Stuenkel resumiu o momento atual do país governado por Donald Trump: “O multilateralismo perdeu força nos EUA, inclusive entre democratas”, sugerindo que a tendência protecionista pode persistir independentemente de mudanças políticas nos Estados Unidos.
Troyjo, por sua vez, fez um alerta aos investidores: “Estão olhando para o lugar errado e isso vai custar caro agora”.
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