Entenda por que dólar e juros despencam mesmo com tarifa de 10% dos EUA sobre o Brasil
- O dólar despenca e os juros futuros caem após anúncio de tarifas americanas mais brandas ao Brasil (10%).
- Mercado acredita que o Brasil será menos afetado que a China (34% de tarifas).
- Queda dos juros futuros, principalmente no curto prazo, reflete expectativas de inflação menor.
- Desvalorização do dólar acompanha movimento global, com desmonte de posições em dólar nos derivativos.
- Investidores estão realocando capital de EUA para outras regiões, incluindo América Latina, impulsionando Ibovespa.
- Apesar do otimismo, há alerta sobre a fragilidade da apreciação do real com queda nas commodities.
Os mercados de câmbio e juros futuros do Brasil iniciaram o pregão desta quinta-feira em tom bastante positivo após o anúncio das tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no fim da tarde de ontem.
Nesta manhã, o dólar apresenta forte depreciação frente ao real e as taxas têm quedas robustas, desde os prazos mais curtos até os juros de longo prazo.
A percepção, segundo participantes do mercado consultados pelo Valor, é de que o Brasil foi menos atingido pelas tarifas americanas, já que os produtos do país serão sobretaxados em apenas 10%, o piso estabelecido pelo governo de Trump.
A China, por exemplo, arcará com taxas de 34% em adição aos 20% que já haviam entrado em vigor antes do anúncio de ontem.
Leitura é de que Brasil pode se beneficiar
“A narrativa é de Brasil melhor no relativo. Especialmente porque está acontecendo algo raro: commodities caindo pela desaceleração esperada, mas com dólar fraco.
Isso vai fazer o cenário de inflação aqui melhorar bem”, diz o chefe da tesouraria de uma importante instituição financeira local.
Segundo ele, o quadro atual dos mercados tem potencial de “ajudar bastante” o Banco Central em sua missão de levar a inflação à meta de 3%, o que conversa com a queda dos juros futuros, principalmente nos vértices de curto prazo da curva a termo, que melhor refletem as expectativas dos agentes para a política monetária.
Por aqui, os juros futuros caem mais de 0,2 ponto percentual nos vértices intermediários da curva a termo, contra uma queda de pouco menos de 0,1 ponto das taxas dos títulos do Tesouro americano.
Já o dólar recua mais de 1% no mercado à vista, chegando a operar no nível de R$ 5,60 neste início de sessão.
O que explica o momento atual de câmbio
No caso do câmbio, a desvalorização do dólar frente ao real segue em consonância com o movimento global da moeda americana.
Parte disso pode ser explicado por mais uma rodada de desmonte de posições em dólar no mercado de derivativos, ou seja, menores apostas de que a moeda americana irá se valorizar daqui em diante.
É um ajuste de posições em meio a uma decepção com o que se esperava no fim do ano passado.
Ainda antes das eleições americanas em 2024 e também um pouco depois, cresceu a perspectiva entre os investidores de que as medidas do novo governo Trump poderiam dar força à economia dos Estados Unidos, que à época já se mostrava bastante aquecida e resiliente aos juros elevados.
No mercado de câmbio, essa perspectiva se traduziu em apostas na valorização do dólar nos derivativos (aumento de posições compradas em dólar contra qualquer outra moeda). Esse aumento de apostas, de certo modo, ajudou a fortalecer a moeda americana.
Mas, neste começo de ano, com Trump recuando diversas vezes em suas medidas tarifárias e não negando chances de recessão, a perspectiva de economia americana forte e excepcional foi colocada de lado e parte dessas apostas foi desfeita – quase todas as moedas globais já avançavam frente ao dólar, mesmo antes das tarifas.
Agora, com as tarifas, percebeu-se que a economia americana pode ser impactada por produtos importados mais caros, e com o crescimento em jogo, as apostas a favor do dólar caem, conforme avaliam gestores e traders que acompanham o mercado.
Não bastasse esse enfraquecimento que ocorre pela parte especulativa no mercado de derivativo, há também uma possível mudança no fluxo de capitais que também interfere na cotação da moeda.
Investidor está saindo dos EUA e indo para outros mercados
Se, até o começo do ano, o mercado acionário americano era o destino certo dos investidores, ao longo dos primeiros meses de 2025 isso foi colocado em xeque.
Houve no primeiro trimestre o que se chama de “rotação”, a realocação e saída de uma classe de ativos para outra.
No caso, o investidor global tirou parte de seu capital das empresas americanas e realocou em outras regiões, como na Europa e na América Latina, por exemplo. O Ibovespa é um sinal evidente disso. O índice avança 9% no ano.
Como as medidas criam incertezas sobre o futuro da economia americana, companhias do país e os próprios consumidores podem adiar planos de investimentos e compras, o que tira temperatura da atividade econômica.
Diante disso, a perspectiva dos lucros das companhias tende a piorar, desvalorizando as ações das empresas e os índices acionários.
Investidores, assim, passam a buscar outras regiões capazes de trazerem melhores retornos para seus investimentos.
Como a tarifa americana contra produtos brasileiros foi mais branda, a perspectiva de que o mercado brasileiro pode ser menos afetado torna os ativos locais mais atrativos, o que pode atrair fluxo.
“O risco é que é frágil essa ideia de o real apreciar com commodity caindo”, alerta o chefe de tesouraria mencionado anteriormente.
Segundo ele, o petróleo em queda prejudica “não só a balança comercial como também o nosso fiscal”. De qualquer forma, por ora, “a narrativa é do Brasil saindo como ganhador relativo”, completa.
*Com informações do Valor Econômico
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