Com covid e gripe, encolhe mão de obra do setor de serviços

O avanço dos casos de covid-19 pela variante ômicron e de influenza prejudica o setor de serviços, que ainda se recupera dos impactos dos bloqueios das primeiras ondas da pandemia. Em bares e restaurantes, um em cada cinco funcionários foi afastado nos últimos 45 dias com suspeita de gripe ou covid-19, calcula a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Companhias aéreas já adiam voos e hospitais estão deslocando profissionais de outras áreas para atender aos novos casos.
Pesquisa do SindHosp com 33 hospitais privados de São Paulo mostra que 90% deles tiveram aumento de atendimentos de pacientes com covid-19 ou gripe, sendo que em metade deles o crescimento é mais do que o dobro do registrado há 15 dias. Desses hospitais, 30% são da capital e 70% do interior do Estado.
Esse cenário leva à preocupação com a contaminação dos profissionais de saúde. Num grande grupo hospitalar, a taxa de positividade para covid-19, entre os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde teve crescimento de 30%, ao dia, na semana passada.
Nos últimos cinco dias, a incidência de casos de covid-19 ultrapassou o de influenza em hospitais como Albert Einstein, Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa, HCor, Rede D’Or e Sírio-Libanês e na rede de medicina diagnóstica Dasa.
Os hospitais têm conseguido contornar as baixas deslocando profissionais de outras áreas que estão com baixa demanda nessa época do ano como, por exemplo, cirurgias eletivas. Mas essa situação é considerada temporária, uma vez que há demanda muito grande das áreas de emergência lotadas por causa dos atendimentos para pacientes acometidos com síndromes gripais. “É preciso reduzir os prazos de afastamento [de funcionários infectados], senão o setor vai travar”, disse uma fonte da área.
O Ministério da Saúde está analisando reduzir o prazo de licença dos trabalhadores do setor, que hoje é de 14 dias. A Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) solicitou, ontem, à pasta uma agilidade nessa definição. A entidade não pleiteou um prazo, mas lembrou que o CDC (centro de controle de doenças dos Estados Unidos) reduziu o tempo de afastamento para cinco a sete dias. “O prazo de 14 dias é para a cepa anterior. A ômicron é outro vírus, é diferente, merece uma atualização”, disse Antonio Britto, presidente da Anahp.
Para outros setores, o desafio está na indisponibilidade de testes. É o que conta Paulo Solmucci, presidente da Abrasel. Os sintomas são muito similares tanto para a gripe, quanto para a ômicron ou mesmo crises alérgicas, como rinite, e cada uma tem um tempo de afastamento diferente. No caso da gripe, a orientação é de 3 a 5 dias. Para covid-19, o isolamento supera 10 dias. Sem disponibilidade de testes, muitas empresas optam por manter o prazo máximo de afastamento.
Assim, bares e restaurantes têm recorrido à contratação de temporários para substituição dos funcionários afastados, o que tem sido feito rapidamente. A solução ajuda a manter as operações em funcionamento, mas pressiona as finanças das empresas que ainda tentam recuperar as perdas impostas pela covid-19. “Esses afastamentos não são cobertos pelo INSS. Então o restaurante precisa contratar um temporário e pagar os dois, o contratado e o afastado”, diz Solmucci.
O setor hoteleiro também sente a baixa de funcionários, mas, em contraste com setores mais dependentes de mão de obra especializada, dizem estar conseguindo convocar temporários para substituir funcionários que testaram positivo. O presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro (Hotéis Rio), Alfredo Lopes, diz que o setor conta com boa margem de pessoal substituto, comumente acionado para a realização de eventos e para picos de demanda na alta temporada. Os hotéis da cidade, diz, têm seguido rotina rígida de protocolos sanitários e testado colaboradores para garantir a segurança de hóspedes e funcionários. Os hotéis do Rio atingiram 96% de ocupação na virada do ano e seguem com “boa ocupação” em janeiro.
Também no setor de turismo, as companhias aéreas avaliam que, pelo menos por enquanto, o cenário é de que os problemas decorrentes da nova variante na operação tendem a ser pontuais e contornáveis. Na Azul, por razões operacionais diante do crescimento de contaminados entre a tripulação, alguns voos de janeiro estão sendo reprogramados. “A companhia registrou um aumento no número de dispensas médicas entre seus tripulantes -casos esses que, em sua totalidade, apresentaram um quadro com sintomas leves”, diz. Cerca de 90% das operações estão funcionando normalmente. Segundo a Azul, os clientes estão sendo notificados das alterações.
A Latam informou que cerca de 1% da operação da companhia foi afetada por casos de covid-19 na tripulação. “Desde o início da pandemia, qualquer funcionário da Latam (seja aeronauta ou aeroviário) diagnosticado com covid-19 é afastado do trabalho para a sua devida recuperação”, informou a Latam ao Valor. Cerca de 50 voos da companhia no Brasil e no exterior vão precisar ser remarcados por conta do afastamento de funcionários afastados.
A Gol diz que “houve nos últimos dias um aumento dos casos positivos entre colaboradores, mas nenhum voo foi cancelado ou sofreu alteração significativa por este motivo”. Os funcionários que apresentam resultado positivo estão sendo afastados das funções para se recuperarem em casa. A companhia não deu detalhes sobre o efetivo que foi contaminado.
Procurada, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que as empresas do setor seguem rigorosos protocolos e que não houve remanejamento expressivo de malha por contágio gerado pela ômicron.
No varejo, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) diz que até o momento não há registro de aumento “fora dos padrões”, mas disse estar atenta e reiterou a adoção de protocolos sanitários.
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