Brasil pode emergir como vencedor numa guerra comercial mundial, diz o BTG Pactual

- Guerra comercial entre EUA e China pode beneficiar o Brasil.
- Tarifas menores para o Brasil que para outros países aumentam a competitividade.
- Commodities brasileiras podem absorver mercados perdidos pelos EUA.
- Setor de proteínas (Minerva – BEEF3) e etanol podem ser beneficiados.
- Impacto limitado em grãos, devido a pouca troca comercial entre Brasil e EUA.
- Risco: desaceleração global ou recessão.
O Brasil pode emergir como o vencedor em um cenário de escalada da guerra comercial pelo mundo. Está é a avaliação do BTG Pactual em relatórios divulgados nesta sexta-feira (4), logo após a China retaliar os Estados Unidos, com um aumento de tarifas e limites a exportações de produtos considerados sensíveis pelo governo chinês.
Em grande parte, esse cenário deve refletir o ganho relativo do Brasil, por três motivos principais.
Primeiro, porque o Brasil foi alvo de uma tarifa extra (10%) inferior às anunciadas pelo governo de Donald Trump para o mundo na quarta-feira. Na verdade, essa alíquota foi até menor do que esperava parte do mercado.
“Uma vez que as tarifas impostas a outros países foram mais elevadas, alguns segmentos brasileiros podem se tornar relativamente mais competitivos, inclusive ampliando sua presença no mercado norte-americano”, afirmaram os analistas Iana Ferrão e Pedro Oliveira.
EUA sofrem retaliações, commodities brasileiras lucram
Além disso, grandes setores exportadores brasileiros, como o de commodities agrícolas e metálicas, também podem aproveitar oportunidades. Neste caso, a oportunidade reside em absorver mercados em que os EUA eventualmente sofram retaliações.
A China, por exemplo, anunciou tarifas adicionais de 34% sobre produtos dos EUA, a mesma alíquota extra que o governo aplicou sobre importações chinesas.
No impasse entre as duas maiores economias do mundo, Pequim também anunciou controles sobre exportações de matérias-primas usadas na fabricação de celulares e motores de carros elétricos, discos rígidos, e indústria aeroespacial, vitais para importantes setores da economia dos EUA.
Trump reagiu, afirmando que não voltará atrás no aumento das tarifas.
Ademais, líderes da União Europeia, outra região duramente atingida pelas novas tarifas dos EUA, também já sinalizaram disposição para retaliarem os norte-americanos.
O BTG Pactual lembrou que os EUA concorrem com o Brasil em várias commodities, em particular agrícolas e metálicas.
Portanto, os exportadores brasileiros desses produtos poderiam “aproveitar oportunidades se absorverem mercados que os EUA eventualmente percam por sofrerem retaliações de parceiros comerciais”, diz o relatório.
Minerva (BEEF3), uma vencedora em potencial
Para ilustrar esse cenário, em outro relatório sobre efeitos possíveis para o Brasil setorialmente, o banco mencionou o mercado de proteínas.
Além da China, mercados asiáticos como Japão e Vietnã, que o Brasil está trabalhando para abrir para exportações de carne bovina, foram também duramente atingidos pelas tarifas dos EUA.
Enquanto isso, os EUA são um importante destino para as exportações brasileiras de carne bovina, atingindo 189 mil toneladas em 2024 (7% do total das exportações).
Para o banco, porém, o impacto das tarifas dos EUA sobre as remessas brasileiras para lá devem ser limitado.
Primeiro, porque as exportações brasileiras de carne bovina para os EUA já enfrentam tarifas de 26%.
Depois, o rebanho bovino dos EUA está no menor nível em mais de 70 anos e enfrentando uma grave retração do ciclo. Assim, o país provavelmente continuará dependendo de importações para lidar com o consumo doméstico.
Diante disso, a Minerva (BEEF3) deve emergir como beneficiária, avaliam os analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris.
Segundo eles, o cenário para aves é semelhante ao da carne bovina.
EUA perderam força como destino no etanol brasileiro
O etanol brasileiro atualmente enfrenta uma tarifa de 2% nos EUA, que aumentaria para 12%.
No entanto, aponta o BTG Pactual, os EUA agora desempenham um papel relativamente menor nas exportações de etanol do Brasil (16% do total, ante 60% de cinco anos atrás).
Enquanto isso, Coreia do Sul vem emergindo como o principal destino do produto.
Ainda, as exportações de etanol (1,8 bilhão de litros em 2024) também representam uma pequena parcela da produção total brasileira (37 bilhões de litros em 24/25).
Brasil-EUA, grandes produtores de grãos, poucas trocas
Dois dos maiores produtores de grãos do mundo, Brasil e EUA tem poucas trocas nessas categorias.
O impacto sobre os exportadores brasileiros deve vir da perda de competitividade das exportações dos EUA, potencialmente aumentando a demanda por produtos brasileiros.
O aumento da demanda resultante pode fazer os preços brasileiros serem negociados com prêmio significativo sobre os internacionais, diz o relatório.
Desaceleração global (ou recessão) é risco para cenário benigno
O BTG, no entanto, frisou que uma desaceleração econômica global (ou mesmo uma recessão), é um risco para esse cenário mais benigno.
Esse perigo cresce dependendo da dimensão de impactos regionais do aumento das tarifas, como na China, grande destino das exportações brasileiras de commodities.
A visão é compartilhada pela XP, também em relatório desta sexta.
“Embora os impactos diretos (das tarifas) possam parecer limitados à primeira vista (para o Brasil), as implicações indiretas de uma potencial desaceleração global são o que mais nos preocupa”, diz o documento.
A redução da atividade econômica, diz a XP, tende a penalizar os setores de papel e celulose, mineração e siderurgia, além do de de bens de capital.
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