Ásia busca amenizar impacto das tarifas ‘maiores do que as esperadas’ de Trump

Governos asiáticos buscam minimizar o impacto das novas tarifas de Trump, maiores que o esperado, enquanto a China promete retaliação. Japão e Coreia do Sul buscam diálogo e soluções para proteger suas economias
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  • Governos asiáticos reagem às novas tarifas de Trump, maiores que o esperado.
  • Apenas a China anunciou retaliação; outros buscam minimizar danos.
  • Japão, Coreia do Sul e outros países preocupados com impacto na economia e emprego.
  • Discussões sobre acordos comerciais multilaterais e bilaterais são retomadas.
  • Analistas preveem aumento da volatilidade nos mercados financeiros.
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Os governos do Japão, Coreia do Sul, Tailândia e outros países asiáticos afetados pela nova onda de tarifas de Donald Trump, disseram hoje que vão agir para amenizar o impacto das taxas, que são maiores do que as esperadas. No entanto, apenas a China declarou que adotará medidas retaliatórias.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou “tarifas recíprocas” de até 49%. A China foi atingida por uma tarifa adicional de 34%, a Coreia do Sul por 25% e o Japão com 24%.

As tarifas serão grandes golpes para os países da Ásia e Pacífico, que vêm promovendo uma maior liberalização comercial por meio de modelos de cooperação multilaterais como o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP, na sigla em inglês) e a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP).

No Japão, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba disse a jornalistas que as novas tarifas de Trump foram “extremamente decepcionantes”. Afirmando que o Japão contribui para os investimentos diretos e a criação de empregos nos EUA, Ishiba lamentou o Japão não estar isento das tarifas, “apesar de ter solicitado aos EUA que reconsiderassem as tarifas recíprocas unilaterais”.

Japão, China e Coreia do Sul realizaram um diálogo econômico em Seul no domingo, reafirmando seu apoio às regras comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC). As nações do leste asiático também acertaram planos para retomar discussões há muito paralisadas sobre um acordo trilateral de livre comércio.

Reação do Japão

“O Japão tem sérias preocupações sobre a consistência das medidas dos EUA com o acordo da OMC e o Acordo Comercial EUA-Japão”, disse o primeiro-ministro.

“Não hesitarei em falar diretamente com o presidente Trump [para pressionar por negociações] no momento mais apropriado e da maneira mais apropriada.”

O secretário-chefe do Gabinete do premiê japonês, Yoshimasa Hayashi, disse: “O primeiro-ministro Ishiba já determinou que o Japão continuará conclamando os EUA a isentar o Japão das medidas, além de acompanhar de perto o impacto na indústria nacional e sobre o emprego”.

Apesar da retórica, Ishiba deverá manter sua “postura discreta” – o que significa evitar um confronto com os EUA – e não deve adotar contramedidas imediatas, segundo James Brady, um analista da consultoria de risco Teneo, em um relatório divulgado na terça-feira.

“Ishiba poderá mudar para um tom um pouco mais assertivo, mas ainda buscando preservar uma relação de cooperação com o governo Trump”, disse Brady. “Alguns membros do Partido Liberal Democrata [no governo] consideram a posição do governo muito submissa.”

Reação da Coreia do Sul

Na Coreia do Sul, o ministro das Finanças Choi Sang-mok se reuniu com o presidente do Banco da Coreia, Rhee Chang-yong, e autoridades financeiras para discutir o impacto das novas tarifas sobre o país e como lidar com elas.

“Não pouparemos esforços nas negociações com os EUA para amenizar os danos à nossa economia com base em uma análise cuidadosa da política tarifária dos EUA”, disse Choi durante a reunião.

“Anunciaremos um plano de apoio detalhado para indústrias como a automobilística e a de construção naval, que deverão ser atingidas pelas tarifas recíprocas.”

O Banco da Coreia disse que a volatilidade nos mercados financeiros globais deverá aumentar, já que as novas tarifas são mais altas do que o esperado.

“As tarifas recíprocas dos EUA foram maiores do que o mercado esperava, pois as taxas impostas a cada país são altas e muitos já estavam sujeitos a elas”, disse Ryoo Sang-dai, vice-presidente sênior do banco central sul-coreano.

“Continuaremos monitorando os impactos sobre a economia local decorrentes da política tarifária dos EUA.”

Reação de Taiwan

O governo de Taiwan classificou a tarifa de 32% de Trump como “muito irracional” e “lamentável”. O premiê Cho Nung-tai instruiu o Escritório de Negociações Comerciais a avaliar imediatamente a medida e apresentar uma manifestação formal ao representante comercial dos EUA.

Michelle Lee, porta-voz do gabinete do premiê sul-coreano, disse que a medida é injusta com Taiwan. Ela disse que o método de cálculo “não é claro” e não reflete a “estrutura comercial altamente complementar de Taiwan e dos EUA e as relações comerciais substantivas”.

A porta-voz acrescentou que o aumento das exportações de Taiwan e o superávit comercial com os EUA refletem principalmente “o aumento da demanda dos clientes americanos por semicondutores e produtos relacionados, especialmente produtos de IA”, bem como as políticas que Trump impôs em seu primeiro mandato, como tarifas e controles ao acesso de tecnologia pela China, o que alterou as cadeias de abastecimento.

Reação da China

A China chamou os EUA de “valentões”. O Ministério do Comércio chinês emitiu uma declaração dizendo que “se opõe firmemente” às tarifas de Trump e “tomará contramedidas resolutas para proteger seus direitos e interesses”.

A China também disse que os EUA estão “ignorando” os benefícios que há muito tempo colhem com o comércio internacional.

“As chamadas ‘tarifas recíprocas’, que são baseadas em avaliações subjetivas e unilaterais pelos EUA, não estão de acordo com as regras do comércio internacional, ameaçam seriamente os direitos legítimos e interesses das partes envolvidas e são típicas de intimidação unilateral”, diz o comunicado.

Reação no Sudeste Asiático

Países do Sudeste Asiático também reagiram ao anúncio dos EUA, mas nenhum deles mencionou a implementação de medidas retaliatórias.

“A Malásia não está considerando tarifas retaliatórias”, disse em um comunicado o Ministério dos Investimentos, Comércio e Indústria malaio.

“Para amenizar o impacto das tarifas, vamos expandir nossos mercados de exportação, dando prioridade a regiões de crescimento elevado e alavancando os acordos de livre comércio existentes, incluindo o CPTPP e o RCEP.”

O ministro do Comércio e Indústria de Cingapura, Gan Kim Yong, disse que o governo poderá reduzir sua previsão de crescimento anual de 1% a 3%, uma vez que a situação acabou sendo “pior do que o esperado” quando a projeção foi feita.

“Naturalmente estamos desapontados, porque, apesar de nossa relação econômica e comercial forte e duradoura com os EUA sob o Acordo de Livre Comércio EUA-Cingapura, também estamos sendo alvos das mesmas tarifas básicas de 10%”, disse o ministro, acrescentando que “impor taxas de importação retaliatórias apenas aumentaria os custos de nossas importações”.

Na Tailândia, a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra disse que seu governo criou uma comissão especial de autoridades de organizações relevantes para buscar meios de absorver o impacto do aumento das tarifas pelos EUA.

“No curto prazo, vamos buscar uma maneira de negociar para ajudar a reduzir o impacto negativo sobre as exportações”, disse Shinawatra.

Enquanto isso, o Departamento do Comércio e Indústria das Filipinas disse ver “uma oportunidade” para aprofundar sua parceria estratégica com os EUA e pretende realizar uma reunião com o representante comercial dos EUA para “discutir o fortalecimento das relações comerciais… As Filipinas acreditam que regras comerciais claras e previsíveis são essenciais para o crescimento sustentado”.

O primeiro-ministro do Vietnã. Pham Minh Chinh, disse que a imposição de tarifas pelos EUA não está de acordo com as boas relações entre os dois países, segundo a TV estatal vietnamita.

Ele pediu aos ministérios que permaneçam calmos, sejam corajosos e preparem respostas proativas, flexíveis, oportunas e eficazes para todos os acontecimentos.

Stephen Olson, pesquisador visitante sênior do ISEAS-Yusof Ishak Institute de Cingapura, disse que “o maior importador do mundo agora basicamente pendurou uma placa em sua fronteira dizendo: ‘Fechado para negócios’”.

“Estamos agora diante de dois cenários plausíveis: ou os parceiros comerciais afetados aguentam firme a retaliam na esperança de Trump ser forçado a recuar, ou eles tentarão fechar ‘acordos’ com Trump para evitar as tarifas. É improvável que qualquer um dos cenários termine bem.”

*Com informações do Valor Econômico

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