Análise: O que os balanços dos bancos dizem sobre o desempenho da economia

Empresas citadas na reportagem:
Os grandes bancos privados terminaram o primeiro trimestre um pouco mais otimistas do que começaram. O crédito deu o tom dos negócios, e os números são compatíveis com a onda de revisões para cima do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander apresentavam uma carteira de crédito de R$ 2,389 trilhões no fim de março, com crescimento de 13,3% em um ano. Em relação a dezembro, o volume aumentou 0,5%, mas nesse caso a comparação é prejudicada pela sazonalidade.
Um levantamento da Febraban divulgado no fim de abril indicou que o setor financeiro espera crescimento de 8,3% no crédito em 2022 – acima dos 7,6% apontados na sondagem anterior, realizada em fevereiro. A melhora está em linha com uma visão mais positiva para a economia. No início deste ano, os departamentos de análise econômica dos bancos têm revisado suas projeções para o PIB em 2022. Ontem, o Bradesco elevou sua estimativa de crescimento de 1% para alta de 1,5%. No Itaú, a expectativa ainda é de expansão de 1%, mas o banco já reconheceu que há “risco de alta em torno dessa projeção”.
A mediana das expectativas do boletim Focus para o PIB saltou de 0,3% no começo deste ano para 0,7% no dado mais recente (que está defasado por causa da greve dos servidores do Banco Central). Como o crédito tem forte correlação positiva com o desempenho da economia, ele reflete essa melhora de percepção. Reflete também a inflação, já que parte das linhas é atrelada ao IPCA e outra parte vem embutindo taxas maiores decorrentes do aperto da Selic. A alta nos preços também engorda os volumes, já que os valores dos produtos financiados aumentam.
Nos três bancos privados, as linhas que mais cresceram são aquelas mais ligadas ao consumo, como crédito pessoal e cartões, refletindo alguma retomada nos serviços e no varejo após o período mais crítico da pandemia. Por outro lado, modalidades que implicam decisões de prazo mais longo, como financiamento imobiliário e veículos, tiveram desempenho mais fraco num ambiente de juros em alta e inflação sem trégua. Portanto, não é que a coisa esteja boa.
A inflação e o aperto monetário também preocupam no sentido de que afetam a capacidade de pagamento dos consumidores. Os balanços já mostraram uma piora da inadimplência e os executivos dos bancos disseram que esse movimento deve continuar nos próximos meses. Não se espera, apesar disso, um salto nas operações em atraso – até porque as instituições financeiras têm sido proativas em renegociar com clientes antes que a corda estoure.
Outro sinal amarelo vem do aumento das despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), que os bancos usam para se proteger de calotes. Nos três privados, esse item saltou 46,8% em relação ao primeiro trimestre do ano passado, chegando a R$ 16,416 bilhões, não só por causa do avanço nas carteiras de crédito, mas porque o risco também aumentou.
Os dados mostram, portanto, uma melhora frágil do ambiente econômico – e que daqui para a frente será confrontada com os efeitos do aperto monetário nos Estados Unidos e com as incertezas do período eleitoral.
Leia a seguir