Novas tarifas de Trump sinalizam hoje cenário positivo para o real contra valor do dólar

O pacote com novas tarifas de importação de Donald Trump mobilizou as atenções do mercado financeiro nesta quarta-feira (2). Por enquanto, as novas taxas recíprocas, incluindo uma taxa de 10% sobre importações brasileiras, deve enfraquecer o valor do dólar contra o real hoje.
Gestores do mercado financeiro, contudo, apontam que o efeito sobre a bolsa de valores é incerto. No restante do mundo, a reação deve ser mista, com valorização da moeda americana contra moedas asiáticas.
Gestores e analistas afirmaram à Inteligência Financeira que o efeito positivo é mais evidente para o câmbio do que para a bolsa de valores brasileira.
O índice DXY, que mede o valor do dólar contra moedas de economias importantes, caiu para o menor nível desde que Trump reassumiu o mandato da Casa Branca.
Os investidores internacionais, incluindo os gestores brasileiros, foram reduzindo sua exposição ao dólar contra o real no decorrer dos primeiros três meses do governo Trump.
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Tarifas de Trump sinalizam dólar sob valor mais fraco
O anúncio desta quarta-feira, assim, sinaliza um cenário mais positivo para o real contra o dólar, afirma o CIO da Sulamérica Investimentos, Luis Garcia.
No que chamou de “Liberation Day”, ou dia da Liberação, Trump anunciou uma tarifa mínima global de 10% que se aplica a países como o Brasil. A tarifa global entra em vigor a partir de 5 de abril, de acordo com a Casa Branca. China e o Japão tem taxas de incidência de 34% e 24%, respectivamente, mais duras, a serem aplicadas em 9 de abril.
Assim, o cenário é mais positivo para o Brasil e o real do que para moedas de outros mercados emergentes, afirma Garcia.
O executivo considerava uma tarifa global de 15% como “otimista” para a desvalorização global do dólar.
Sérgio Machado, gestor da MAG Investimentos, diz que o anúncio de tarifas foi “melhor que o esperado”.
“Com isso, bate no dólar porque tem-se expectativa de enfraquecimento da economia americana como um todo e eventualmente busca por alternativas de moedas”, comenta à Inteligência Financeira.
Garcia adiciona que essa fuga do investidor para moedas alternativas tornou-se uma “fraqueza para dólar” que foge da especulação. Nesse sentido, reconhece que as tarifas não eliminam a “fragilidade mais estrutural” no valor do dólar hoje.
Para o real, Leonardo Monoli, sócio da Azimut Wealth Management, considera que a mensagem final é positiva.
“Com vários países sendo mais duramente penalizados, essa situação pode ser mais benéfica na margem para o Brasil”, descreve o sócio da Azimut. Ele acrescenta que há potencial de aumentar o quanto o País escoa de produtos para o exterior, ou até para exportar itens de outros países.
Tarifaço pode limitar fluxo estrangeiro para a bolsa de valores
A participação do estrangeiro na alta da bolsa de valores pode diminuir a partir do tarifaço de Donald Trump.
O protecionismo do presidente americano com novas tarifas, assim, tem potencial de inibir a rotação de ativos que investidores vêm realizando, inclusive com aumento de apostas em mercados emergentes como o Brasil.
O País tem uma das menores tarifas de importação aplicadas é um fator positivo, comenta Garcia.
Lucca Silva, sócio e gestor da Persevera Asset, afirma que o anúncio de Trump tem efeito neutro para a bolsa de valores. Ao mesmo tempo em que o real pode se valorizar, o especialista vê queda no fluxo para renda variável contra outros investimentos, como o ouro.
A Persevera vem diminuindo exposição ao Ibovespa em antecipação às tarifas de Trump.
“Podemos ver um movimento de queda no dinheiro movimentado em sistema mesmo”, diz. As tarifas desencorajam o movimento de dinheiro aplicado em dólar pela valorização da moeda, e, fora dos Estados Unidos, enfraquece aplicações financeiras globais, argumenta Silva.
A seu favor, o Ibovespa “tem um desconto considerável”, diz Silva. Assim como as empresas apresentam, em média, um desconto ainda maior, prossegue o o CIO da SulAmérica. “O índice como um todo está descontado.”
Investidor deve fugir ou aplicar em dólar?
É consenso que as tarifas devem adicionar volatilidade tanto no valor do dólar contra o real quanto no Ibovespa hoje. Gestores, assim recomendam cautela ao investidor.
Machado comenta que a renda fixa hoje paga um prêmio de 10% anual ao investidor, e que, para atingir esse mesmo retorno apostando no câmbio, o dólar teria que subir 15%, para R$ 7.
“Fazer proteção de carteira em dólar hoje é arriscado, lembrando que o câmbio foi para R$ 6,30 em dezembro. O primeiro passo para se proteger é não tomar decisões assoldadas”, afirma.
Luiz Genova, superintendente de Tesouraria do Banco Daycoval, defende que o investidor adote cautela diante do cenário atual.
“Mesmo com a economia mais fechada, o Brasil pode sofrer com a desaceleração mundial com as tarifas”, afirma. “Vamos ver um mundo mais conservador e defensivo.”
Machado, por outro lado, acredita que o valor do dólar chegou ao piso. Mas isso não significa necessariamente uma alta à vista.
“O piso do dólar hoje está entre R$ 5,65 a R$ 5,80. Agora, não quer dizer que, daqui para frente, ele vai subir. Temos que observar qual será nossa participação interna para essa volatilidade adicional”, ponderou o gestor.
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