Dólar fecha em forte alta, reagindo a Copom e temor sobre auxílio emergencial

A combinação de uma decisão de juros abaixo do esperado por uma parcela dos agentes de mercado e também preocupações renovadas sobre o cenário fiscal resultou em nova alta firme do dólar no Brasil, nesta quinta-feira (28). Em um pregão onde o dólar se enfraqueceu contra praticamente todas as divisas mais líquidas do planeta, o real destoou não apenas por fazer parte do segundo grupo, mas por ter o pior desempenho entre eles.
No encerramento do dia, a moeda americana fechou em alta de 1,25%, a R$ 5,6248. Contra o rand sul-africano, a segunda divisa de pior performance, o dólar subia 0,61%.
Desde ontem, diante da dispersão de visões sobre qual deveria ser a sinalização da autoridade monetária após a mudança do regime fiscal, já havia expectativa de que o real acabasse exposto a certa frustração nesta quinta. Isso de fato ocorreu, mesmo o BC fazendo o ajuste que a maioria dos players esperava.
O dólar amanheceu pressionado, cenário que apenas piorou com a notícia de que o governo cogita prorrogar o auxílio emergencial em 2022 caso o ‘plano A’, a PEC dos Precatórios, tenha trâmite dificultado.
Em conversa com lideranças do Congresso, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou que a extensão do benefício seria financiada com crédito extraordinário ou a decretação do estado de calamidade. Não ficou claro quem seria o público-alvo, se apenas os beneficiários do Bolsa Família, um universo de 17 milhões de pessoas, ou os 35 milhões de contemplados atualmente com o auxílio criado durante a pandemia.
No início da tarde, no entanto, o dólar chegou a reduzir momentaneamente a alta após relatos de que o governo optaria por abrir crédito extraordinário para viabilizar a prorrogação do auxílio emergencial. A medida é vista como uma saída melhor para o imbróglio do que decretar um novo estado de calamidade pública, como ocorreu em 2020. A melhora, no entanto, não se sustentou e o dólar fechou perto da máxima do dia, R$ 5,6358.
Ao ser questionado sobre o tema, durante a coletiva para apresentar o resultado do governo central em setembro, o subsecretário de Planejamento Estratégico da Política Fiscal, David Rebelo Athayde, afirmou que não há nenhuma possibilidade de a equipe econômica defender a reedição do estado de calamidade pública. “Está fora de questão”, disse.
Para a economista do Ourinvest Cristiane Quartaroli, é o pano de fundo político e econômico ruim que não deixa o real se valorizar, mesmo após uma forte alta da Selic. “Hoje saiu mais um IGP-M acima do esperado. Além disso, existe o receio com o adiamento da PEC dos Precatórios. Isso gera um desconforto no mercado porque mais gastos pode implicar em mais inflação lá na frente”, diz. “Por mais que o BC eleve os juros, isso demora um tempo para fazer efeito sobre a economia, ao mesmo tempo que deprime mais ela lá na frente”, afirmou.
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