Desmate tem pouca atenção de gigantes do agro, diz estudo

Pesquisadores do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral analisaram os relatórios e políticas de sustentabilidade de 19 companhias brasileiras e estrangeiras do setor

Apesar da escalada dos índices de desmatamento no Brasil nos últimos anos e da pressão de governos para que as empresas garantam que o problema não está presente em suas cadeias de suprimento, a devastação de vegetações nativas ainda é o tema que menos recebe atenção, dentre os principais assuntos ambientais, das maiores empresas brasileiras do agronegócio, de acordo com análise realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC).

Os pesquisadores do Núcleo de Sustentabilidade da instituição analisaram os relatórios e políticas de sustentabilidade de 19 companhias brasileiras e estrangeiras que figuram entre as maiores do ramo e atribuíram pontuações aos principais assuntos ESG (ambientais, sociais e de governança), conforme divisão temática do Conselho de Normas de Contabilidade de Sustentabilidade (SASB). Eles notaram que o desmatamento e a proteção da biodiversidade são os assuntos sobre os quais as empresas menos divulgam informações como indicadores, metas e melhorias. Das 11 empresas com atuação nacional analisadas, nenhuma obteve pontuação máxima.

O desmatamento também é o assunto que, em média, menos recebe a atenção das empresas internacionais do agro. Só uma das 11 empresas com atuação internacional avaliadas obteve pontuação máxima nesse quesito, e a pontuação média foi a menor entre os cinco assuntos avaliados para cada companhia.

Já o tema ambiental que mais recebe atenção nos documentos públicos das companhias brasileiras e internacionais é o relacionado a emissões e mudanças climáticas. Em seguida aparecem temas como uso de recursos hídricos, energia, e resíduos e efluentes. Esta ordem de prioridade indica que as companhias a põem foco em assuntos que lhes dão vantagem competitiva, e não nos assuntos que representam desafios, já que o tema resíduos e efluentes, por exemplo, pode implicar “diminuição dos gastos com processos de eliminação e uso de matéria-prima”, observam os autores do estudo.

Nos temas sociais, o assunto que menos é detalhado pelas empresas nacionais e internacionais é segurança alimentar, ainda que com diferença menor em relação a outros temas, como ética e transparência; impactos na comunidade; direitos humanos, diversidade, igualdade; e saúde e segurança ocupacional.

Das empresas com atuação nacional, apenas uma não possuía um relatório anual ou de sustentabilidade, mas nenhuma tinha uma matriz de materialidade consolidada – ou seja, uma hierarquia estabelecida de temas sensíveis para a companhia e suas contrapartes. Já essa prática é um pouco mais comum entre as empresas com atuação internacional.

Os pesquisadores da Fundação Dom Cabral também observaram que alguns temas “novos” nos debates sobre ESG devem ganhar mais importância nos próximos anos, como estímulo à agricultura familiar, uso de defensivos agrícolas, uso de fontes renováveis de energia, e economia circular.

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