Degola nos preços-alvo, mas a recomendação é comprar

Houve poucas mudanças nas recomendações de comprar, manter ou vender

Os analistas de investimentos revisitaram suas planilhas para colocar nas contas a inflação em alta, o aumento de juros e os efeitos ainda incertos da nova variante do coronavírus. O resultado foi um grande número de cortes nos preços-alvo, que é o valor estimado para ação em 12 meses, mas poucas mudanças nas recomendações de comprar, manter ou vender.

Um acompanhamento feito pelo Valor a partir de maio dos relatórios divulgados pelos bancos mostra que os ajustes para baixo nos preços-alvos vêm ocorrendo com mais frequência nos últimos dois meses. Foram 147 cortes nos preços desde 15 de outubro até sexta-feira passada, comparados a 64 aumentos. Quatro papéis foram colocados em revisão.

O ajuste também teve efeito nas recomendações, porém com menos intensidade. No fim de setembro, de 424 recomendações, 71,2% eram compra, 24,1%, neutra e 4,7%, venda. Na sexta-feira, a fotografia mostrava que, de 506 recomendações, 69,8% eram compra, 27,5%, manter e 2,8%, venda.

A maior parte dos dados foi captada dos relatórios para clientes de Ativa, BB Investimentos, BofA, BTG Pactual, Citi, Credit Suisse, Goldman Sachs, Safra e XP.

A amostra compilada traz 237 ativos, incluindo recibos de ações e ações de empresas brasileiras negociadas em Nova York, num total de 222 companhias. Esse é o universo de cobertura dos bancos e corretoras, que foi significativamente expandido com a onda de abertura de capital dos últimos anos – apesar da pandemia.

Essas empresas acumulavam lucro líquido de R$ 262 bilhões nos nove meses até setembro, sete vezes mais do que no mesmo período de 2020 (sem Petrobras e Vale), uma medida de como elas atravessaram com méritos a crise sanitária. No entanto, apesar de saudáveis, elas valem menos hoje do que valiam no fim do ano passado: cerca de 17%, ou R$ 745 bilhões.

Os analistas tiveram que se adaptar à nova realidade e refazer os cálculos com as novas premissas para trazer ao valor de hoje a cotação que projetam para daqui a doze meses. No começo do mês, o Safra atualizou os modelos para as empresas de serviços financeiros, “reduzindo os preços-alvos após a incorporação de taxas de desconto mais altas”. Como não poderia deixar de ser, nem a própria bolsa escapou da degola. O Credit Suisse cortou o preço-alvo da B3, mas manteve a recomendação de compra. Juros, volumes mais baixos de negociação e até a queda do Ibovespa motivaram a reavaliação.

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