BlackRock diz que investidor só voltará a buscar risco quando juro cair abaixo de 10%

CEO não se arrisca a prever quando exatamente a Selic diminuirá, mas considera que a taxa recuará no médio e longo prazo

Após a fuga de dinheiro das aplicações financeiras de maior risco com a alta da taxa básica de juros da economia, os brasileiros buscarão esses ativos com força de novo apenas quando a Selic cair abaixo de 10% ao ano, na análise de Karina Saade, diretora-geral da BlackRock no Brasil. Ela falou durante um evento com jornalistas da maior gestora de fundos de investimentos do mundo, com US$ 8,5 trilhões sob gestão, nesta quarta-feira.

“Enquanto a taxa continuar alta, os clientes seguirão menos propensos a assumir risco”, disse. “Os juros precisam baixar para menos de 10% para acontecer uma retomada significativa da tomada de risco.” A executiva não se arrisca a prever quando a Selic diminuirá exatamente, mas acha que a taxa recuará no médio e longo prazo.

A Selic aumentou fortemente desde abril de 2021, de 2% para 13,75% ao ano, para combater a inflação. Os economistas esperavam que o Banco Central cortasse a taxa em algum momento a partir do ano que vem, mas ao longo deste mês as expectativas mudaram. Após a eleição e a maior pressão para aumento de gastos do governo, os juros futuros começaram a precificar a possibilidade de alta em 2023.

Conforme Axel Christensen, estrategista-chefe de investimento para América Latina da BlackRock, existe chance de o Banco Central diminuir juros no ano que vem, porque começou a elevar a Selic mais cedo para conter a inflação. De acordo com ele, é por isso que o país pode ser menos afetado pela chance de recessão da economia global, que está crescendo.

Ainda segundo o executivo, o risco fiscal pode não afetar muito a percepção do Brasil entre os investidores estrangeiros, porque o país não está sozinho. “O Brasil não está sozinho no risco fiscal”, afirmou. “Vemos pressão para aumentar gastos em países como Chile e Colômbia, e nos países desenvolvidos, como no Reino Unido.”

Em meio a um dos ambientes mais desafiadores que o mercado financeiro já viu, com o grau de incerteza muito alto, a BlackRock enxerga algumas tendências no mundo dos investimentos.

A diferença clara entre gestão ativa, aquela em que o gestor é livre para escolher os ativos que compõem uma carteira e passiva, aquela em que o gestor busca acompanhar um índice de mercado, está cada vez menor, conforme a casa, que possui US$ 5,5 trilhões sob gestão em ETFs, fundos negociados em bolsa que acompanham um indicador de mercado.

Além disso, a combinação de títulos públicos e privados e a customização e personalização das carteiras estão cada vez mais comuns, de acordo com a gestora.

A BlackRock também aposta em cinco megatendências globais para investidores de longo prazo: avanços tecnológicos, mudanças demográficas e sociais, rápida urbanização, mudanças climáticas e mudanças de poder econômico.

A casa acha que essas são as maiores mudanças em curso no mundo que devem transformar a economia e a sociedade e que elas independem de ciclos econômicos. Os brasileiros podem investir em ativos ligados a essas megatendências por meio de BDRs de ETFs, ou seja, ativos negociados na bolsa brasileira que permitem investir diretamente em ETFs que acompanham índices estrangeiros. A gestora tem R$ 2,7 bilhões sob gestão em BDRs de ETFs.

Por Júlia Lewgoy

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