Resultado e ações em queda, interferência estatal e medo de tarifas: o inferno astral da Tupy

Ações da Tupy perderam 1/3 do valor nos últimos 12 meses. Polêmica nomeação de novo CEO e receio de tarifas de Trump estão no radar

Os acionistas da Tupy (TUPY3) não vêm tendo vida fácil. Nos últimos 12 meses, a ação perdeu 1/3 do valor. O movimento é reflexo, sobretudo, da queda nas vendas em seu mercado principal de componentes em ferro fundido para transporte de carga e infraestrutura.

Não bastasse o cenário adverso nos negócios, os acionistas também estão lidando com uma polêmica troca de comando da companhia e com o medo de ela ser um dos principais alvos da guerra tarifária do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos. Os EUA são um dos principais mercados da metalúrgica.

Diante desse cenário nebuloso, cinco de nove analistas que acompanham TUPY3 têm recomendação de manutenção para o papel, segundo o portal MarketScreener. Apenas três indicam compra ou equivalente, enquanto o último sugere venda ou alocação abaixo da média do mercado.

É uma avaliação parecida com a média do setor de máquinas e equipamentos, segundo o BTG Pactual.

Porém, mesmo com a fraco desempenho recente, o banco avalia que a melhor coisa para o investidor agora é esperar.

“Acreditamos que os investidores preferem entender a estratégia da nova liderança e o planejamento de longo prazo para a empresa antes de aumentar suas posições”, afirmou o BTG em relatório recente.

Raio X da Tupy
Criada em 1938, com sede em Joinvile (SC)
Fábricas em Joinville, São Paulo e Betim (MG), duas no México e uma em Portugal
21 mil empregados, exporta 67% da produção
Receita líquida de R$ 10,7 bilhões em 2024 (-6% ante 2023)
Ebitda ajustado de R$ 1,3 bi em 2024, alta anual de 2%
Lucro ajustado de R$ 82 milhões em 2024, queda de 84%

Novo CEO da Tupy é presidente do conselho do BNDES

Por nova liderança leia-se a escolha de Rafael Lucchesi como novo presidente-executivo, por indicação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), maior acionista, com 28% das ações da Tupy. Muitos no mercado viram a indicação como surpreendente e negativa.

Além de presidente do conselho do BNDES, Lucchesi ocupor por 18 anos a posição de diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Analistas e investidores vêm manifestando preocupação dupla com a mudança. Primeiro pela falta de familiaridade de Lucchesi com o negócio.

A carreira de Lucchesi não é típica de um executivo de empresa, disse Camilo Marcantonio, gestor da Charles River, segunda maior investidora minoritária da companhia, com 4,5% das ações, em entrevista à Folha de S.Paulo.

Consultadas pela Inteligência Financeira, a Charles River e a Organon Capital, também minoritária da Tupy, preferiram não se manifestar sobre a eleição de Lucchesi, que assume em maio.

O outro receio é de que sua chegada leve a Tupy para uma trajetória mais ligada aos interesses do governo federal, em possível prejuízo dos resultados da companhia e, por consequência, dos acionistas minoritários.

“Notamos preocupações razoáveis devido à falta de proximidade (de Lucchesi) com as operações diárias da Tupy, levantando questões sobre uma potencial influência política na empresa”, afirmou a XP em relatório nesta sexta-feira.

Lucchesi substitui Fernando Rizzo, que estava há sete anos no cargo e há três décadas na metalúrgica. Até semanas atrás, sua reeleição era dada como certa pelo mercado.

O receio com a troca tem a ver com a composição acionária da metalúrgica. Juntos, BNDES e Previ, caixa de previdência dos empregados do Banco do Brasil (BBAS3), detêm 53% da Tupy.

Trigono Capital defende nome de Lucchesi à frente da Tupy

Em contrapartida, a Trígono Capital, que tem 10% da empresa, defendeu Lucchesi.

“Não me lembro de qualquer ato dos acionistas controladores contrário ao interesse dos minoritários”, disse recentemente em uma live o chefe de investimentos da Trígono, Werner Roger, antes que a eleição de Lucchesi fosse confirma.

“Às vezes é um balão de ensaio para ver como o mercado reage”, acrescentou.

A reação do mercado não foi boa. Desde que essa indicação tornou-se pública, há duas semanas, TUPY3 caiu 17%. Mas o BNDES seguiu com a indicação.

A inesperada mudança de CEO não é a única questão de governança em curso na Tupy.

A companhia é alvo de uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a eleição de três ministros do governo Lula, em 2023, para fazerem parte do conselho da companhia: Carlos Lupi (Previdência), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Vinicius Marques de Carvalho (CGU).

A nomeação dos três, também pelo BNDES, teria acontecido sem consulta prévia de conflito de interesses à Comissão de Ética.

Tupy pode ser alvo de tarifas nos Estados Unidos

Mas os acionistas também estão preocupados com o outras questões mais ligadas ao ambiente de negócios da Tupy.

Isso porque o setor da empresa, a metalurgia, pode ser um dos principais alvos da política de elevação de tarifas do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, segundo relatório do BTG Pactual.

Segundo o balanço do quarto trimestre de 2024 da empresa, 37% de suas receitas vinham dos EUA.

“Mantemos nossa visão conservadora sobre a Tupy, em meio a uma tendência desfavorável de volumes e também a uma narrativa de piora com manchetes sobre tarifas nos Estados Unidos”, afirmou o Itaú BBA em relatório nesta sexta-feira.

Em meio a esse quadro, a Tupy anunciou nesta manhã contrato com duas montadoras de caminhões no Brasil para produção de componentes de veículos extrapesados.

Segundo a companhia, os acordos devem adicionar R$ 250 milhões anuais à sua receita.

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