Vale (VALE3) vê China sustentando preço do minério, mas dividendo extraordinário sai do radar
- A Vale prevê preços do minério de ferro estáveis, sustentados pela demanda chinesa.
- Dividendo extraordinário é improvável devido ao fraco desempenho trimestral e alta dívida.
- A empresa mantém política de dividendo mínimo de 30% da geração de caixa.
- Ações VALE3 caem após anúncio, apesar de analistas manterem recomendações positivas.
- A Vale busca aumentar a eficiência e reduzir custos para compensar a queda nas receitas.
Empresas citadas na reportagem:
A Vale (VALE3) acredita que a forte demanda da China por minério de ferro deve sustentar os preços da commodity nos próximos meses, evitando assim uma pressão adicional sobre as receitas da companhia. Por outro lado, a expectativa de pagar dividendo extraordinário parece estar fora do radar no momento.
“Nossa política de pagar um dividendo mínimo equivalente 30% da geração de caixa será preservado. Acima disso, vai depender das condições de mercado”, disse a jornalistas o vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores da mineradora, Marcelo Bacci.
O comentário soou pouco animador para investidores que esperavam algum sinal de remuneração extra como forma de compensar ao menos parcialmente o fraco desempenho trimestral. Com isso, as ações VALE3 caíam firme no pregão desta sexta-feira (25) na B3.
Oferecer proventos mais generosos aos acionistas tem sido um caminho usado pela companhia para tentar segurar investidores de longo prazo, enquanto enfrenta um mercado global adverso para os preços dos metais.
Em 2024, segundo o BTG Pactual, a Vale pagou aos acionistas uma renda equivalente a 10,3% do valor da ação (dividend yield), acima dos 8,2% do ano anterior. Isso amenizou em parte o pessimismo dos investidores com o cenário de mercado fraco do setor.
Mas a queda persistente nos preços minério, que deve levar a companhia em 2025 ao quarto ano seguido de declínio das receitas, limita essa tática.
Assim, VALE3 já perdeu 53% do valor desde que atingiu sua máxima acima de R$ 115 em maio de 2021.
Dividendo extraordinário da Vale fora de cena
No mês passado, o anúncio de um acordo com o fundo de investimento Global Infrastructure Partners (GIP), para formar uma joint venture em energia, ainda criou uma expectativa de um provento extra para os acionistas, uma vez que o negócio renderá à Vale uma receita extra aproximada de US$ 1 bilhão.
No entanto, o balanço trimestral fraco e as preocupações com a gestão dívida aparentemente tiraram de cena essa hipótese.
“A dívida líquida expandida aumentou em direção ao limite superior da zona de conforto da empresa, atingindo US$ 18 bilhões (US$ 1,8 bilhão a mais em relação ao trimestre anterior), sinalizando que dividendos extraordinários continuam improváveis”, afirmou o BTG em relatório, estimando que o dividend yield da Vale neste ano cairá para cerca de 7,4%.
De todo modo, segundo o WSJ Markets, dos 24 analistas que avaliam as ações da Vale em Nova York, 14 seguem com recomendação de compra ou equivalente. Outros 10 sugerem manutenção.
Preço do minério não deve cair muito, prevê Vale
Na noite de quinta-feira (24), a mineradora anunciou que teve lucro líquido de US$ 1,39 bilhão no primeiro trimestre, uma queda de 17% na comparação com igual período de 2024. Isso refletiu principalmente a queda de 16% dos preços do minério de ferro e de 6% do níquel.
Nas últimas semanas, o receio de declínio adicional das cotações das commodities metálicas, motivada pelos efeitos de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, fez analistas preverem preços do minério ainda menores para até 2027. Alguns previram que a cotação atual da tonelada do metal, em torno de US$ 100, possa recuar para US$ 85 no ano que vem. Ou até abaixo disso.
Marcelo Bacci, no entanto, refutou esse horizonte. Segundo ele, não houve impacto das tarifas até agora no minério devido aos anúncios de sobretaxas generalizadas dos EUA sobre importações. E a demanda da China por minério segue sólida, sem sinais de diminuição.
“Acreditamos que não há razões para preços do minério se distanciarem nos patamares atuais”, disse Bacci. “Não acreditamos em minério abaixo de US$ 85 a tonelada; se cair abaixo disso, a produção cai e os preços voltam”.
Enquanto isso, a Vale vem sinalizando com aumento da eficiência de sua operação, com redução de custos.
“Diferente dos nossos competidores globais, estamos em trajetória de redução de custos. Não somos o melhor custo do mundo nisso, mas podemos”, acrescentou o executivo.
Leia a seguir