Bradesco ‘vira a chave’ no 1° trimestre e ganha R$ 21 bilhões em valor de mercado
Ações subiram mais de 15% após banco divulgar lucro, crédito, margens e seguros acima das expectativas; Bank of America e BB Investimentos elevaram recomendação
As ações do Bradesco (BBDC4) tiveram uma alta histórica nesta quinta-feira (8) na B3, após balanço trimestral acima das expectativas sugerir que o banco pode estar finalmente engatando uma recuperação, depois de três anos de resultados muito fracos.
BBDC4 fechou em alta de 15%, o que acrescentou R$ 21 bilhões em valor de mercado à companhia, a R$ 151 bilhões.
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Lucro, margens com clientes, crescimento do crédito e das receitas com tarifas e com seguros foram algumas das linhas do resultado do primeiro trimestre de 2025 do Bradesco que superaram, tanto as previsões de analistas quanto do próprio banco.
Mais do que isso, o presidente-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, admitiu a possibilidade de mudança nas previsões de desempenho para o ano.
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“Estou até mais otimista”, disse ele durante teleconferência com jornalistas sobre os resultados do primeiro trimestre, referindo-se ao desempenho no período ter superado o ritmo previsto para 2025 em linhas como crédito, seguros e receitas com tarifas.
Enxergando uma virada de chave do Bradesco, após três anos de resultados muito fracos, o Bank of America e a BB Investimentos elevaram suas recomendações para o papel, de neutra para compra.
“Os resultados do primeiro trimestre de 2025 melhores do que o esperado (…) evidenciam que o plano de reestruturação está tendo um impacto positivo (e estrutural) nas operações”, afirmou o Bofa, argumentando ainda que o preço das ações teve desempenho inferior ao de outros bancos na bolsa.
Bradesco cresce e lucra mais que o esperado
O Bradesco anunciou na noite de quarta-feira (7) que teve lucro recorrente de R$ 5,96 bilhões de janeiro a março, um salto de 39,3% ante mesma etapa de 2024. O resultado também veio acima da previsão média dos analistas, de R$ 5,4 bilhões.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE), que mede como os bancos remuneram seus investidores, subiu a 14,4%, um aumento de 4,2 pontos percentuais ano a ano. “Nossa inadimplência em consignado é menor do que a do mercado”, disse Noronha.
A carteira de crédito evoluiu 12,9% em 12 meses, para a inédita marca de R$ 1 trilhão.
O banco também anunciou remuneração aos acionistas R$ 3,2 bilhões no primeiro trimestre e um programa de recompra de até 106,58 milhões de ações, entre ordinárias e preferenciais. Em valores atuais, o programa, que vai até novembro de 2026, pode movimentar R$ 1,3 bilhão, considerando as cotações atuais.
O que previu o Bradesco para 2025
Mas, por enquanto, o banco preferiu manter suas previsões originais, com Noronha comentando que o crédito pode desacelerar ao longo do ano. “Estamos mais para a banda de cima do guidance”, disse ele.
Conforme notou a XP em relatório, além do crescimento dos empréstimos, o lucro do Bradesco no primeiro trimestre refletiu maiores margens com clientes nessas operações. Ou seja, o banco pagou menos para captar recursos e conseguiu repassar maiores taxas.
“Tivemos o custo de captação mais barato dos últimos anos”, disse Noronha.
Além disso, o Bradesco conseguiu manter controle da qualidade da carteira, com o índice de inadimplência acima de 90 dias em 4,1%, praticamente estável em relação a dezembro (4%) e inferior aos 5% de um ano antes. Isso permitiu ao banco estabilizar a despesa com provisão para perdas com calotes em R$ 7,6 bilhões.
Essa combinação indica o Bradesco retomando o passo para competir em pé de igualdade com seus maiores rivais, após anos de resultados mais fracos devido a perdas maiores com inadimplência, que fizeram sua rentabilidade cair praticamente pela metade. O banco vem se concentrando no crescimento em linhas de financiamento de menor risco, como consignado e imobiliário, disse Noronha.
Disparada de BBDC4 hoje
Essa recuperação vem se refletindo no comportamento das ações, com BBDC4 acumulando alta de 18% em 2025 até a véspera.
O ROE de 14,4% ainda está significativamente abaixo dos índices de Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e BTG Pactual (BPAC11), ao redor de 20%, mas vem melhorando de forma consistente.
Segundo Noronha, o maior desafio para o Bradesco manter esse ritmo de retomada de rentabilidade ao longo de 2025 deve acontecer no segundo e terceiro trimestres, devido ao ciclo de alta dos juros, o que tende a impactar a demanda por empréstimos. O Banco Central elevou na quarta-feira a Selic, de 14,25% para 14,75% ao ano, mas sinalizou que o ciclo de aumento da taxa pode ter acabado.
Em relatório, o BTG Pactual comentou que as principais linhas do balanço do Bradesco vieram em linha ou melhores do que o esperado. Porém, manteve a recomendação neutra para as ações, considerando que o Bradesco passa por uma transformação de longo prazo.
“Tirar conclusões sólidas com base num único trimestre pode ser enganoso – algo que já vimos acontecer mais do que uma vez nos últimos anos”, afirmou a equipe de analistas do BTG liderada por Eduardo Rosman.