Aposentadoria de Warren Buffett: o Oráculo se despede

Ao rever suas cartas aos acionistas, seus discursos em assembleias, suas entrevistas tranquilas e cheias de humor, percebo que ele não partiu. Apenas trocou de palco

Há dias que se gravam na memória como o último acorde de uma sinfonia: não apenas pelo silêncio que se segue, mas pelo eco que permanece. A aposentadoria de Warren Buffett é um desses dias — um marco que ressoa mais como elegia do que como notícia.

Buffett não foi apenas um investidor. Foi farol. Voz calma em mares revoltos, mão firme em tempos de euforia, um contador de histórias que falava de dinheiro como quem fala de valores. Um dos homens mais ricos do mundo, sim. Mas, acima disso, um dos mais coerentes. A riqueza era meio, nunca fim. A simplicidade, nunca disfarce, sempre essência.

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A forma como penso sobre risco: retorno e tempo foi moldada por três mestres.

Harry Markowitz ensinou-me a ver o mundo em portfólios, a buscar por eficiência entre o caos. Daniel Kahneman me fez entender que somos seres de viés, emoção e incoerência — e que reconhecer isso é o primeiro passo para ser melhor. Mas foi Warren Buffett quem me ensinou a esperar.

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Esperar o mercado vir até mim. Esperar o momento certo para agir. Esperar com confiança que, no longo prazo, o bom senso supera o ruído.

Ele dizia: “O mercado é um mecanismo de transferência de dinheiro dos impacientes para os pacientes.”

E como isso se mostrou verdade.

Investir, com Buffett, era quase um ato de caráter. Buscar empresas com boa governança, vantagem competitiva duradoura, líderes éticos e modelos de negócio compreensíveis. Comprar barato, manter com firmeza, vender — se preciso — com pesar. Era menos sobre ganhar e mais sobre estar certo.

“É melhor estar aproximadamente certo do que totalmente errado.”

Greg Abel, o sucessor de Buffett

E não se pode falar de Buffett sem Charlie Munger, seu parceiro inseparável de jornada. Dois senhores de óculos grossos e raciocínio afiado, sentados em Omaha, tomando Coca-Cola e brincando com bilhões como se fossem selos.

A morte de Munger, em 2023, foi como o cair de uma folha que já não se prendia ao galho — suave, esperada, mas dolorosa. Charlie era o ceticismo gentil, a ironia sábia, o alerta silencioso. Era o que fazia Buffett ainda mais Buffett.

Agora, com a despedida do Oráculo de Omaha, sobra a missão hercúlea para Greg Abel. Discreto, meticuloso, canadense de poucas palavras. Abel comanda os negócios não financeiros da Berkshire Hathaway há anos. Conhece cada centímetro da máquina. É digno, técnico, respeitado. Mas o mundo pergunta, em silêncio: será suficiente?

Talvez nunca haja outro Buffett. Talvez o mundo não precise de outro. Porque ele nos ensinou a pescar, a raciocinar, a procurar valor onde há substância, não espuma.

Despedir-se de Buffett é como fechar um livro cujas frases sublinhamos, cujas páginas dobramos nos cantos, cujas ideias nos acompanharão para sempre. Um livro que não será esquecido — porque plantou raízes profundas.

Hoje, ao rever suas cartas aos acionistas, seus discursos em assembleias, suas entrevistas tranquilas e cheias de humor, percebo que ele não partiu. Apenas trocou de palco.

Obrigado, Warren. Por tudo.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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